segunda-feira, 20 de dezembro de 2010
Siglas Poveiras
As siglas poveiras são uma forma de "proto-escrita primitiva", já que se trata de um sistema de comunicação visual rudimentar; devem-se a colonos Vikings que passaram o seu sistema de escrita para a população poveira há cerca de mil anos atrás. As siglas eram usadas como brasão ou assinatura familiar para assinalar os seus pertences - também existiram na Escandinávia, onde eram chamados de bomärken, e de onde esta tradição provém.
No passado, era também usado para recordar coisas como casamentos, viagens ou dívidas. Devido a isso eram conhecidas como a "escrita" poveira, sendo bastante usada porque muitos dos habitantes desconheciam o alfabeto latino, e assim as runas adquiriram bastante utilidade. Os vendedores usavam-nas no seu livro de conta fiada, sendo lidas e reconhecidas por estes tal como nós reconhecemos um nome escrito em caracteres latino. As siglas-base consistiam num número bastante restrito de símbolos dos quais derivavam a maioria das marcas familiares; estes símbolos incluíam o arpão, o coice, a colhorda, a lanchinha, o sarilho, o pique (incluindo a grade que era composta de piques cruzados). Muitos destes símbolos são bastante semelhantes aos que são encontrados no Norte da Europa e geralmente possuiam uma conotação mágico-religiosa de protecção quando pintados nos barcos.
Siglas antigas podem ainda ser encontradas na actual Igreja Matriz (Matriz desde 1757) e na Igreja da Lapa (na Póvoa de Varzim), na Capela de Santa Cruz (em Balasar), em vários locais religiosos do Noroeste Peninsular e são ainda usados de forma cada vez mais ligeira por algumas famílias de pescadores. A mesa da sacristia da antiga Igreja da Misericórdia, que serviu de Matriz até 1757, guardava em si milhares de siglas que serviriam para um estudo mais aprofundado, mas foi destruída quando a igreja foi demolida. Os poveiros escreviam a sua sigla na mesa da Igreja Matriz quando se casavam, como forma a registar o evento.
As siglas eram passadas do pai para o filho mais novo, já que na tradição poveira que ainda perdura, o herdeiro da família é o filho mais novo tal como na antiga Bretanha e Dinamarca; aos outros filhos eram dadas a mesma sigla mas com traços, chamados de «pique». Assim, o filho mais velho tem um pique, o segundo dois, e por ai em diante, até ao filho mais novo que não teria nenhum pique, herdando assim o mesmo símbolo que o seu pai. O filho mais novo é o herdeiro da família, pois era esperado que tomasse conta dos seus pais quando estes se tornassem idosos. Também, e ao contrário do resto do país, é a mulher que governa e dirige a família - este matriarcado radica no facto de o homem estar normalmente a pescar no mar, sendo muito provavelmente uma reminiscência de costumes matrilocais muito antigos.
http://www.cm-pvarzim.pt/turismo/conhecer-a-povoa/siglas-poveiras
segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
Igreja de Santa Cristina de Serzedelo
Cronologia
1071 / 1072 - Data da inscrição funerária existente no sarcófago com alusão a Galindus, provavelmente Galindus Gonzalvis, pai de Soeiro Galindes, Senhor de Riba-Cávado, casado com D. Goína Pais, bisneta do Conde D. Paio Vermudes, presor da Terra da Vinha (BARROCA, 2000); José Mattoso aponta para outro provável Galindus Gonzalvis, casado com Vistregia, pai de Patrina e de Trutesendo Galindes, este último fundador do Mosteiro de Paço de Sousa (v. PT011311220003); séc. 11, final - Provável data da inscrição, possivelmente pertencente a um monumento funerário de Sesnando (BARROCA, 2000); séc. 12 - segundo José António Almeida existia no local um convento dos Eremitas de Santo Agostinho, que terá pertencido aos Templários, tendo passado posteriormente depois para a Comenda da Ordem de Cristo (ALMEIDA, 1976); segundo Pinho Leal o mosteiro pertencia à Ordem de São Bento (PINHO LEAL, 1873); séc. 13, meados - provável reedificação da igreja (ALMEIDA, 1978); séc. 14 - construção da capela funerária adossada a S. da capela-mor; séc. 15 - a igreja passa a ser abadia secular; posteriormente passa a reitoria; séc. 16, primeira metade - execução das pinturas murais; séc. 18 - construção do tecto de caixotões da capela-mor; 1717, 2 Setembro - na Visitação é referido que "o fabriqueiro não tem dado satisfação às obras mandadas fazer na visita passada, com é telhar a Capela Maior da Igreja, consertar a vidraça..."; 1718, 18 Agosto - segundo a Visitação foram colocadas as redes nas frestas, faltando tapar a porta lateral do exonártex; 1720, 2 Dezembro - segundo a Visitação ainda não foi colocada a vidraça nem as telhas na capela-mor; 1723, 26 Novembro - segundo refere a Visitação " Acho o corpo da igreja tão escuro e falto de luz que se não escusa abrir-se nela uma fresta de bom tamanho, que tenha cinco palmos de alto e quatro de largo com sua grade de ferro, vidraça e rede de arame (...) os fregueses mandarão abrir da parte da pia baptismal, na forma que determino em termo de três meses sob pena de 3000 réis (...) também a porta travessa da parte da dita pia está muito baixa e incapaz para ela sair o palio, cruzes e mais paramentos das procissões, pelo que mando os fregueses ou a levantem ou façam uma de novo mais abaixo da que está"; a questão da porta teria de ser resolvida no prazo de 4 meses, sob pena de 4000 réis pagos pelo juiz da igreja; 1724, 25 Outubro - a Visitação menciona que nenhuma das obras ordenadas foi executada; 1725, 27 Novembro - a Visitação refere que devido à dificuldade em se abrir uma janela no local onde estava a pia baptismal, pois a parede era bastante grossa, que a pia se mude para o exonártex, do lado esquerdo do portal, rodeada por grades altas; 1726, 1 Novembro - a Visitação refere que a pia baptismal já foi mudada, mas que as grades poderão ser dispensadas por não haver espaço; 1729, 2 Agosto - segundo a Visitação, os fregueses deverão arranjar o forro da igreja, junto ao arco e telhar o cabido da porta travessa, do lado da Epístola; 1730, 26 Junho - a Visitação menciona que as obras ordenadas não foram feitas; as casas da Residência e recolhimento de frutos ameaçavam ruína, pelo que seria um prejuízo para o Comendador da Igreja, o Conde da Ericeira; 1731, 16 Setembro - Visitação dando conta que as casas da Residência ainda estavam arruinadas; determina-se que se rasgue uma fresta na capela-mor, ao pé do arco triunfal; 1733, 7 Dezembro - a visitação dá conta que as obras da casa da Residência ainda não foram feitas; a despesa pertencia ao Comendador; 1739 - a Visitação determina que se limpe a pia baptismal, assim como o sacrário, retábulos, imagens, paredes, forros; segundo o visitador, o padre terá de limpar a igreja pelo menos quatro vezes por ano; 1743, 10 Novembro - a Visitação menciona que a igreja se encontra muito abaixo do nível do adro, que para lá entrar tem de se descer três degraus; existem muitas inundações devido a sua situação rebaixada; é também demasiado escura; o visitador ordena que se encha de terra o pavimento interior da igreja, de modo a ficar nivelado com a capela-mor; que se disponham as campas como estavam; que se levantem os retábulos colaterais; parte da porta travessa do lado da Epístola terá de ser entaipada; por cima da porta lateral da nave, do lado da Epístola terá de ser aberta uma fresta; os guarda-pós dos retábulos deverão ser arranjados; 1744, 10 Novembro - o visitador revoga a ordem de enchimento do pavimento interior de terra, devido à intenção dos moradores mudarem a igreja para junto do Calvário; o visitador ordena ainda que se doure o frontal do retábulo-mor; 1746, 20 Novembro - devido à falta de dinheiro para as obras o visitador determina que o padre no termo do mês dê parte da Mesa da Consciência para a obra do douramento do frontal do retábulo-mor; no prazo de dois meses será feito o cruzeiro fronteiro à igreja; 1760, 29 Fevereiro - o visitador determina que se arranje os caibros do forro por cima do coro, assim como todo o telhado, usando a telha e cal que for necessária; 1780 - segundo o Abade de Tagilde a igreja recebeu uma visitação neste ano, sendo reconhecida a necessidade de reformar a igreja e se fizesse importantes obras; os fregueses forma com embargos à Relação primaz, que confirmou o mandato do visitador; subiu recurso à Coroa, que ordenou que o visitador procedesse com justiça; 1784 - perante o visitador foi resolvido fazer uma nova igreja junto do Calvário, no entanto esta obra nunca chegou a ser feita; séc. 19 - provável reforma da igreja, nomeadamente construção de novos retábulos e sanefa do arco triunfal; 1941, Fevereiro - um ciclone causa diversos estragos na igreja; 1942, Junho - início das grandes obras de restauro do edifício, levadas a cabo pela DGEMN *1; 1957 - a igreja é reaberta ao culto, apesar de as obras não estarem totalmente concluídas; 1981 - carta do páraco de Serzedelo, Padre Manuel Dias da Silva Salgado, ao Ministro das Obras Públicas, dando conta da necessidade da construção de uma nova igreja paroquial, na proximidade da antiga; 1990, 7 Novembro - carta do páraco José António Fernandes Antunes ao presidente do IPPC dando conta que o adro estava em estado de abandono, pois as obras nunca haviam sido concluídas, e que a rampa que foi construída permitia a entrada de águas pluviais no interior da igreja; 1993 - a igreja já não apresentava culto.
Enquadramento
Rural, isolado, implantado no centro de amplo terreiro trapezoidal, pontuado por algumas árvores. O terreiro é delimitado a S. por casas de habitação, e a N. pela EN. No extremo O. encontra-se o cemitério da freguesia. A igreja encontra-se rodeada por adro murado, em quota inferior ao terreiro, desenvolvido em patamares devido ao declive do terreno, com acesso a O., fronteiro à fachada principal, a S., por escadaria, junto à sacristia, e a E, também por escadaria, junto à fachada posterior. Apresenta pavimento em laje de granito, frontalmente e lateralmente, a lateral S. com estreito corredor junto à parede, e o restante em terra batida. Junto à fachada lateral N. encontram-se quatro sarcófagos, dois deles ainda com tampas, apresentando uma delas uma inscrição.
Descrição
Planta longitudinal composta por exonártex fechado e nave única rectangulares, capela-mor quadrangular, com sacristia, também quadrangular, adossada lateralmente a S. e muro campanário disposto lateralmente em relação à fachada principal, também a S.. Volumes escalonados de dominante horizontal, com nave mais alta do que os restantes volumes. Coberturas diferenciadas em telhados de duas águas. Fachadas em alvenaria de granito, com embasamento, na fachada lateral S., no corpo da nave, escalonado. Remates das fachadas de topo em empena coroadas por cruzes páteas no exonártex e nave e cruz florenciada na capela-mor, e das laterais por cornija suportada por cachorrada lisa. Fachada principal orientada, com pano do exonártex aberto por portal, com consolas suportando tímpano, inscrito em duas arquivoltas ligeiramente quebrados, com impostas destacadas. A primeira arquivolta é enquadrada exteriormente por friso em dente de serra e dois sulcos simples que a percorrem inferiormente. Em ambas as arquivoltas existem alguns silhares com siglas. A encimar o portal encontra-se fresta inscrita em arco pleno enquadrado por dois sulcos, à semelhança da arquivolta do portal. Pano da nave, com fresta, parcialmente oculta, enquadrada por arquivolta plena. Fachada lateral N., com pano do exonártex e da nave percorrido por cachorros que suportariam alpendre, no da nave encimados por pingadouro. Neste pano rasga-se portal com consolas suportando tímpano decorado por cruz pátea vazada, enquadrado por arquivolta ligeiramente quebrada. Junto ao portal, do lado esquerdo encontra-se silhar com inscrição. Pano da capela-mor rasgado por fresta, ladeada por dois cachorros, colocados a diferentes alturas. Fachada lateral S. igualmente percorrida por cachorros, na nave e na sacristia, encimados por pingadouro. Pano do exonártex com portal, semelhante ao da fachada oposta, apenas com a diferença que a cruz pátea do tímpano não é vazada. É ladeado superiormente, do lado esquerdo, por fresta. Pano da nave, com contraforte abaixo do pindadouro, e a cima sequência de três frestras. No estremo direito outro portal, com consolas suportando tímpano, vazado com cruz pátea, enquadrado por arquivolta plena. Pano da sacristia perpendicular ao da nave rasgado por portal em arco quebrado, enquadrado superiormente por arquivolta, também quebrada, e entre os cachorros dois escudos. Acima do pingadouro rasga-se fresta. Fachada posterior com panos da nave e capela-mor rasgados por fresta e pano da sacristia com janela em arco quebrado, mainelada, com impostas destacadas, e pequeno óculo quadrilobado na enjunta. Muro campanário em alvenaria de granito, com sineira no topo, ao centro, em empena, com duas ventanas em arco pleno e acesso por escada de ferro. INTERIOR com paredes em alvenaria de granito. Exonártex com cobertura em masseira de madeira com o travejamento à vista. Pavimento em taburnos de madeira e guias de granito. Do lado do Evangelho encontra-se baptistério sobre plataforma de granito, com pia baptismal de taça e coluna octogonal. Na parede rasgam-se dois arcossólios, ligeiramente quebrados, enquadrados por arquivolta. Parede do lado da Epístola com portal de comunicação com o exterior, enquadrado por arco pleno, com siglas nos seguintes do fecho, assente em imposta destacada. Parede testeira com portal de acesso à nave, com consolas suportando tímpano vazado por cruz pátea. É enquadrado por três arquivolta, a exterior decorada por friso de lanças. Nave com cobertura e pavimento igual ao do exonártex. Parede do lado da Epístola com púlpito de base granítica, rectangular, assente em modilhão, e guarda vazada em balaustrada de madeira. Acesso por escada de madeira. Em ambas as paredes rasgam-se portais de acesso ao exterior, ladeados por pia de água benta gomada. Arco triunfal pleno assente em colunas fuste com vestígios de pintura mural de arabescos e capites fitomórficos. Nesta parede encontram-se vestígios de pintura mural, superiormente com arabescos, e a ladear o arco triunfal, prolongando-se para as paredes laterais da nave, com representação de vários santos, delimitados por painéis. Nestes painéis, do lado do Evangelho, encontra-se a representação "O martírio de São Sebastião", e um anjo, e do lado da Epístola "A coroação da Virgem" e Santo António. Ainda neste último lado, mas na parede lateral da nave, encontra-se um painel com São Brás. Capela-mor com cobertura em tecto de masseira de, decorado por caixotões de talha dourada com pintura de medalhões fitomórficos. Pavimento em laje de granito. Parede testeira com altar recto de granito com sacrário de talha, sobre supedâneo de dois degraus. A encimar o altar rasga-se fresta inscrita em arco pleno. A parede apresenta vestígios de pintura mural, com painéis figurativos, um deles representando "O milagre de São Martinho", com o santo representado a cavalo, com chapéu emplumado, espada na mão e oferecendo o seu manto a um mendigo. Apresenta igualmente decoração com motivos de arabescos, prolongando-se para a parede lateral, do lado da Epístola. Nesta última abre-se porta de verga recta, emoldurada, de acesso à sacristia, ladeada por nicho, encimada por fresta entaipada, inscrita em arco pleno. Sacristia com cobertura de madeira com travejamento à vista assente em cachorrada com sulcos marcados, do lado do Evangelho. Parede testeira com vestígios de pintura mural, bastante esbatidos, prolongando-se para a lateral esquerda. Parede fundeira com lavabo, com reservatório parcialmente oculto por espaldar rectangular com torneira e taça oval.
Tipologia
Arquitectura religiosa, românica, gótica, quinhentista e barroca. Igreja monacal de estrutura românica, composta por exonártex fechado, nave única, capela-mor, primitiva capela funerária gótica, usada posteriormente como sacristia, adossada lateralmente à capela-mor e muro campanário junto à fachada principal. O exonártex, possivelmente de construção mais tardia, com algumas semelhanças ao da Igreja de São Miguel de Vilarinho (v. PT011314320008), em Santo Tirso, apresenta a fachada principal com os mesmos formulários construtivos e decorativos de uma fachada principal de uma igreja românica, construído mais baixo do que a nave, de modo a se diferenciar desta. Os portais deste espaço apresentam arquivoltas ligeiramente quebradas seguindo uma solução de transição para o gótico. Os portais da nave, tanto o axial como os laterais, apresentam arquivoltas plenas, o primeiro mais profundo. Os portais do exonártex, assim como os da nave, apresentam consolas a suportar o tímpano, sendo o axial da nave e os laterais, decorados com cruzes páteas. Antes dos restauros iniciados nos anos 40, apenas o lateral do exonártex apresentava esta morfologia, que se manteve, os restantes não tinham consolas nem tímpanos, sendo estes feitos à semelhança do primeiro. Os portais axiais apresentam decoração a enquadrar as arquivoltas, no exonártex, friso em dente de serra e na nave, motivo de lanças. Os portais, bastante simples, apresentam semelhanças na linguagem decorativa com os da Igreja de São Miguel do Castelo (v. PT010308340006), em Guimarães. A iluminação é feita através de frestas que se rasgam acima dos portais axiais, em arquivolta plena, nas fachadas laterais, acima do arco triunfal e no topo da cabeceira. Os topos das fachadas são em empena, no exonártex e na nave coroadas por cruzes páteas e na capela-mor por cruz florenciada. Fachadas laterais com remates em cachorrada simples, percorridas por cachorros que suportariam alpendre, no panos do exonártex e nave, sendo nestes últimos percorridos por pingadouros. Panos do corpo gótico com acesso principal em arco quebrado, encimado por cachorros, também para alpendre, e entre estes escudos. Na fachada posterior rasga-se janela em arco quebrado mainelada. Interior com coberturas em madeira, na capela-mor em masseira decorada por caixotões de talha barrocos. Pavimentos em taburnos no exonártex e nave e em laje de granito na capela-mor e sacristia. Exonártex com parede lateral rasgada por arcossólios, também ligeiramente quebrados. Arco triunfal pleno, assente em capitéis fitomórficos, bastante alto, possivelmente de uma fase mais tardia do românico. Pinturas murais quinhentistas, com decoração de arabescos e representação de Santos.
Fonte : www.monumentos.pt
domingo, 5 de dezembro de 2010
Ponte da Ucanha
A Ponte da Ucanha constitui o mais bem conservado exemplo de uma ponte fortificada no nosso país. Construída sobre o rio Varosa, esta ponte evidencia-se sobretudo devido à imponente torre que se situa sobre uma dassuas extremidades. Por isso, o monumento também é conhecido como Torre da Ucanha.
A ponte é arqueada e composta por um arco grande e quatro pequenos, estando actualmente interdito o tráfego de veículos, excepto os de duas rodas. O acesso do lado sul é feito através de um túnel, que passa sob a torre.A necessidade de defesa estava,relacionada com a proximidade do mosteiro cisterciense de Santa Maria de Salzedas, de cujo couto a vila de Ucanha era cabeça.
A sua existência já vem documentada no século XII. D. Afonso Henriques doou,no ano de1163, à viúva de Egas Moniz, Teresa Afonso, o couto de Algeriz, acrescentando-lhe o território de Ucanha. A ponte deve ter sido construída pelos romanos, no seguimento de uma estrada que passava ali perto. Teresa Afonso, fundadora do Mosteiro de Santa Maria de Salzedas, doou ao convento o couto que recebera do rei e foram os monges quem mais beneficiou da velha ponte, convertida em apreciável fonte de rendimento pelos direitos de portagem que seriam cobrados.
Em 1324, D. Dinis pretendeu favorecer as gentes e vila de Castro Rei, concedendo-lhes o privilégio da passagem de Moimenta para Lamego, mas face à pressão dos frades de Salzedas, o rei confirmou tal privilégio a Ucanha.
sábado, 27 de novembro de 2010
Capela de S. Pedro de Balsemão - Lamego
Descrição
Planta longitudinal, composta, regular. Volumes articulados com coberturas diferenciadas de telhados de 2 águas e não coincidência do exterior com o interior. Embasamento proeminente conferindo-lhe grande horizontalidade. Capela de 3 naves e capela-mor. Fachada do lado esquerdo com embasamento muito demarcado. Fachada principal delimitada por pilastras, com escadaria de 8 degraus rectangulares com rebordo no remate dos patins que dão acesso à porta, de perfil rectangular e ladeada por fenestração rectangular gradeada, encimada por 3 brasões de armas. Remate em cornija e pequena sineira sobre a porta. 2 registos epigráficos completam o muro da capela. O corpo da capela-mor, em plano mais recuado e de menores dimensões e altura, comporta pequena fenestração igual ao do corpo da capela. Fachada da capela-mor cega, embasamento e cornija. Lateralmente os muros, igualmente cegos, fecham o corpo da capela. Fachada do lado direito: Junto a muro, porta com arquitrave, a que se tem acesso por escadaria de 4 degraus semelhante à do alçado fronteiro, mas de menores dimensões. Pilastras e cornija. O alçado fronteiro ao altar-mor é cego por invasão de muro e construção que se prolonga até ao cunhal da capela. INTERIOR: 2 fiadas de 3 arcos de cada lado, a pleno centro, assentes em colunas cilíndricas atarracadas, com capitéis de decoração fitomórfica. Arco triunfal de arco em ferradura, assente em colunas adossadas ao pano murário divisor da capela com a capela-mor, lembrando iconóstase. Altar-mor de talha. Tectos de madeira, policromada, de caixotões.
Cronologia
Séc. 6 - Balsemão já era paróquia; séc. 13 - nas Inquirições, surge referida como local bem povoado; 1562 - construção de um altar em honra de Santa Maria, cabeça do vínculo da Quinta da Régua, criado pelo bispo D. Afonso; 1981, 14 Setembro - o imóvel é afecto ao IPPAR, por auto de cessão.
Tipologia
Arquitectura religiosa visigótica, maneirista. Planta de gramática basilical. Semelhanças com iconóstase. Decoração com motivos visigóticos: cordões circulares nas impostas, losangos gregos, espinhas, dentes de serra, impostas terminadas por modilhões enrolados. Afinidades decorativas com a Ermida do Paiva, Tarouquela e Sernancelhe.
Bibliografia
VASCONCELLOS, Joaquim de, Arte Românica em Portugal, Porto, 1918; CORREIA, Vergílio, Artistas de Lamego - Subsídios para a História da Arte Portuguesa, Coimbra, 1923; PESSANHA, José, São Pedro de Balsemão e São Pedro de Lourosa, Coimbra, 1927; COSTA, M. Gonçalves da, História do Bispado e Cidade de Lamego, Lamego, 1977; Guia de Portugal, Vol. V - II, Lisboa, 1988
terça-feira, 23 de novembro de 2010
Ermida de Nossa Senhora de Guadalupe na Raposeira
Nossa Senhora de Guadalupe na Raposeira é uma pequena ermida que se ergue num vale aberto, entre duas breves colinas, a pouca distância da Raposeira/Vila do Bispo, a norte da estrada que liga estas duas povoações a Lagos.
O acesso faz-se por um curto troço de estrada secundária, que termina no largo fronteiro à porta principal do templo.
De pequenas proporções exteriores, com aspecto sóbrio, onde o contraste da pedra, de cor característica, - no portal e degraus, no óculo, nos cunhais e contrafortes -, é realçado pela brancura da cal das paredes. Essa mesma pedra encontra-se espalhada nos terrenos circundantes.
O corpo do templo é formado por três tramos, marcados por dois largos arcos diafragma, que morrem a cerca de meia altura da parede e cujos ângulos chegam quase à cobertura de madeira. Têm rebordos, como que nervuras largas e grossas, que assentam sobre os capitéis lisos de uma espécie de mísulas. Estes capitéis alargam-se junto à parede, dando assento, igualmente, à pequeníssima espessura saliente dos arranques dos arcos, os quais, no exterior do templo, são sustentados por grossos contrafortes escalonados, perceptíveis na parede interior, a partir do nível inferior dos capitéis.
Sobre o interior visível do contraforte do primeiro arco, do lado sul, encontra-se uma pia de água benta, circular, que se estreita ligeiramente na parte inferior. Esse estreitamento está sublinhado por uma finíssima aresta saliente, sobre a qual uma linha quebrada, igualmente fina e suave, circunda a pia.
No segundo tramo, ao lado da pia, abre-se uma porta para o exterior. Interiormente apresenta-se de verga abaulada e, exteriormente, de arco quebrado, com o ângulo pouco acentuado e de aresta chanfrada. Sem capitéis, continua-se pelos pés direitos, também chanfrados, interrompendo-se à altura de uma pequena imposta que, a poente contém um elemento decorativo, mais uma vez cordiforme.
terça-feira, 16 de novembro de 2010
Vila Romana da Freiria
Designação
Villa romana de Freiria
Localização
Portugal, Lisboa, Cascais, São Domingos de Rana
Acesso
Encontra-se no vale entre Outeiro e Polima. WGS84 (graus decimais) lat.: 38,721070; long.: -9,323232
Descrição
É constituída por uma "villa", com a "domus, da qual foram encontrados alguns pavimentos, o ângulo nordeste do perístilo (pátio coberto assente sobre colunas, em redor de um jardim) ainda com uma base de coluna de mármore "in situ" e o capitel caído ao lado, e um trecho do que se supõe ser o "impluvium" (abertura quadrada no meio do átrio na qual era recebida a água das chuvas). Do complexo termal, descobriu-se um tanque. A solidez do amontoado de pedras detectado sugere provável contraforte a sustentar a parede do tanque, tratando-se, possívelmente, de uma "natatio" que serviria simultaneamente o complexo termal, a N., e as várias necessidades da "villa fructuária". Na área agrícola envolvente, descobriram-se estruturas rurais como o celeiro e o lagar. O celeiro, de grandes dimensões e construção extremamente cuidada, tem contrafortes distribuídos pelos corredores dos alicerces. Estruturas a N. e E. indiciam pátio murado que aproveitou para o chão a laje natural. Encontrado também um Quadrante Solar que terá sido expressamente desenhada para o local, um forno de cozer pão eum altar em honra de Triborunis ( divindade indígena )
Época Construção
Séc. 02
Arquitecto | Construtor | Autor
Não definido
Cronologia
Séc. 02 - época provável da sua construção; 1973 - Guilherme Cardoso e Prof. José d'Encarnação iniciam escavações; 1985, 21 Agosto a 4 de Setembro - os mesmos arqueólogos, concluem tratar-se de uma "villa" romana
Tipologia
Arquitectura agrícola, romana. "Villa" ou residência de campo de um senhor de grandes posses, como podemos depreender pelos vestígios da "domus", pela grande área agrícola que a circundava e pelas próprias estruturas rurais, sobretudo do celeiro, tudo indiciando, portanto, uma ampla actividade produtiva. Integra ainda um complexo termal.
Características Particulares
Monumentalidade e beleza do celeiro, de que se conhece apenas mais um na Península Ibérica, na "villa" romana de Monroy, perto de Cárceres
Intervenção Realizada
1985 - Escavações põem a descoberto a domus, celeiro e termas; 1987, 13/31 Julho - escavações arqueológicas financiadas pelo IPPC, com apoio logístico da Câmara Municipal e com o trabalho de desenho do campo patrocinado pela Junta de Turismo; os trabalhos incidiram especialmente na zona da "villa fructuária".
Observações
Vergílio Correia foi o primeiro a referir vestígios romanos na zona, quando encontrou uma sepultura romana junto às pedreiras. A descoberta de inúmeros fragmentos de cerâmica campaniforme da "villa" documentam a ocupação do lugar desde tempos pré-históricos, mas a "villa" propriamente dita foi ocupada desde o séc. 2 ao IV d.C. Do interessante espólio destacamos: parte inferior (intacta) de um moinho; carranca representando um cão de dentes arreganhados; quadrante solar; ara a triborunnis; grande quantidade de agulhas e alfinetes de osso; sovelas de ferro; agulha de bronze e molde de cerâmica com a decoração de um leão. A zona S. da villa apresenta grande potencialidade, visto que as camadas estatigráficas atingem os 2 m. e vários níveis arqueológicos.
Bibliografia
N/A, Outeiro de Polima - Sondagens arqueológicas no Casal de Freiria, Jornal da Costa do Sol, Cascais, 29 Agosto 1985, p. 15; N/A, Ruínas Arqueológicas em Casal Freiria, Boletim da Junta de Freguesia de S. Domingos de Rana, 30 Agosto 1985, p. 1 - 2; N/A, Surpreendentes descobertas em Freiria, Jornal da Costa do Sol, 14 Agosto 1986, p. 1 e 6; CARDOSO, Guilherme, Cascais no tempo dos romanos (Exposição), Cascais, 1986; ANTUNES, Cristina, Visita à Villa Romana de Freiria, Jornal da Costa do Sol, Ano XXIV, nº 1059, 18 Agosto 1988, p. 8; CABRAL, João Pedro, Nota sobre o topónimo Freiria in Arquivo de Cascais, nº 7, s.l., 1988, p. 45 - 55; CARDOSO, Guilherme, ENCARNAÇÃO, José d', Villa Romana de Freiria in Informação Arqueológica, nº 9, Lisboa, 1994, p. 60 - 61.
www.monumentos.pt
quarta-feira, 3 de novembro de 2010
Estação Arqueológica de Mesas do Castelinho
A Estação Arqueológica de Mesas do Castelinho situa-se na freguesia de Santa Clara-a-Nova, no lugar de Monte Novo do Castelinho.
Segundo estudos arqueológicos, confirma-se que Monte Novo do Castelinho foi um grande povoado já com características defensivas, com vestígios de povoamento desde a Idade do Ferro, remontando a sua origem ao século IV ou V a.C.
Vestígios de povoamento de vários povos têm sido encontrados nas escavações que continuam a decorrer nesta estação, sendo que os mais abundantes são de origem romana e os mais recentes de origem árabe.
As diversas campanhas arqueológicas realizadas colocaram a descoberto várias fortificações, construídas entre a Idade do Ferro e o período omíada.
O acesso à Estação Arqueológica é feito por estrada de terra batida desde Santa Clara-a-Nova.
domingo, 17 de outubro de 2010
Troia - Acála dos romanos
Desconhece-se a origem do nome Tróia. Na época romana, Tróia era uma ilha do delta do Sado, denominada de Ilha de Acála (conforme o refere Avieno). As primeiras referências às ruínas romanas de Tróia remontam a 1516 quando Gaspar Barreiros refere as “…salgadeiras em que se curava o peixe…”.
Em 1622, João Baptista Lavanha, refere o local “…onde ainda se vêm os vestígios de tanques em que se salgaram os atuns, e outros pescados, aparecem ruínas de outros edifícios de aquela cidade e delas se tiraram estátuas, colunas e muitas inscripções….”
Ainda no terceiro quartel do século XVIII, tiveram lugar as primeiras escavações arqueológicas por iniciativa de futura rainha D. Maria I. Nessa ocasião foram postas a descoberto as casas da chamada Rua da Princesa.
Em 1850 a Sociedade Arqueológica Lusitana promoveu novas escavações arqueológicas que incidiram na zona residencial da Rua da Princesa.
No início do século XIX, Inácio Marques da Costa, conduziu trabalhos arqueológicos que levaram à descoberta de estruturas fabris e, sobretudo, de carácter religioso, como o batistério, de que não restam vestígios. Este arqueólogo deixou-nos pormenorizadas descrições e desenhos de todo o conjunto.
O complexo industrial de Tróia terá começado a funcionar ainda na época da dinastia dos Júlios-Cláudios e o seu abandono ocorreu cerca do século VI d.C., quando o fim do império levou ao declínio das rotas comerciais e dos mercados consumidores.
A evolução da ocupação de Tróia está ligada à própria história política do Império Romano.
Acesso:
Via Setúbal, por barco, ou por Est. via Alcácer, Grândola ou Santiago do Cacém.
Protecção:
MN, Dec. 16-06-1910, DG 136 de 23 Junho 1910, ZEP, DG 155 de 02 Julho 1968.
Enquadramento:
Rural, borda d'água. Na parte N. da península de Tróia do lado do estuário, na margem esquerda do Rio Sado, numa restinga delimitando pelo E. um pequeno esteiro em forma de fenda, a Lagoa.
Descrição:
As ruínas do agregado populacional compreendem uma área habitacional, um balneário, 4 zonas de enterramento, um núcleo religioso, além de vários núcleos industriais. Ruínas de edifícios de habitação, de r/c. e r/c. e 1º andar, formando quarteirões separados por ruelas, algumas luxuosas com mosaicos em "opus vermiculatum", estuques com pintura a fresco; balneário - com vestíbulo, "frigidarium", "tepidarium" e "caldarium" sobre "hipocaustum", piscinas e sala de ginástica; vestígios de mosaicos em "opus vermiculatum" numa das piscinas; necrópoles de tipologia diversa: sepulturas sobrepostas numa altura de 7 m (margem da Caldeira), sepultura de incineração de Galla, mausoléu de planta quadrada com nichos abertos nas paredes, para guardar urnas cinerárias, sepulturas de superestrutura quadrangular (junto à basílica); basílica paleo-cristã - com 2 partes distintas: a nave (22,5 x 13 m.), com vestígios de 8 bases de colunas e de arranques de arcadas transversais, a ábside, a O., com pavimento mais elevado, paredes estucadas e pintadas a fresco, com marmoreados, elementos geométricos e emblemáticos; cetárias - grande número de tanques de salga rectangulares e quadrangulares, contíguos, forrados em "opus signinum" e sem comunicação, com poços de boca circular nas proximidades, para fornecer àgua para a salmoura.
Utilização Inicial:
Residencial, industrial
Época de Construção:
Séc. 1 / 6
Cronologia:
Séc. 1 - início da ocupação, que se prolongou até inícios do séc. 6, por povo luso-romano cuja principal actividade era a pesca, o fabrico e a exportação de conservas de peixe. A submersão de parte da povoação terá sido motivada por um fenómeno de transgressão marinha (fenómeno inicial de afundamento seguido de levantamento já com sedimentos), associado a vagas sísmicas e à acção erosiva do Sado (SILVA, 1966).
Tipologia:
Romano, paleo-cristão. Aglomerado construído em função da actividade conserveira, com inúmeros vestígios de cetárias, além do equipamento urbano característico dos povoados luso-romanos: habitações, termas, necrópole, columbário, basílica de 4 naves, com frescos de inspiração paleo-cristã, que se aproximam de outros em igrejas asturianas (ALMEIDA, 1971).
Características Particulares:
O columbário (sepultura familiar) é um exemplar raro em território português. Junto à basílica existia uma construção circular, a N. da actual capela, provavelmente um baptistério, entretanto desaparecido, descrito por Marques da Costa (1933), que ainda viu um "crismon" pintado nas paredes da basílica, por ele interpretada apenas como uma capela sepulcral.
Bibliografia:
APOLLINARIO, Maximiano, Estudos sobre Tróia de Setúbal, in O Arqueólogo Português, vol. 3, Lisboa, 1897; COSTA, A. Marques da, Estudos sobre algumas estações da época luso-romana nos arredores de Setúbal, in O Arqueólogo Português, vol. 26, Lisboa, 1924, vol. 27, Lisboa, 1929; vol. 29, Lisboa, 1933; SILVA, Carlos Tavares da, CABRITA, Mateus Gonçalves, O problema da destruição da povoação romana de Tróia de Setúbal, in Revista de Guimarães, vol. 76, Guimarães, 1966; ALMEIDA, Fernando de, MATOS, José Luís de, Frescos da Capela Visigótica de Tróia, Setúbal", in Actas do 2º Congresso Nacional de Arqueologia, vol. 2, Coimbra, 1971; ALARCÃO, Jorge, Portugal romano, Lisboa, 1974; SOARES, Joaquina, Estação romana de Tróia, Grândola, 1980; ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de, Arte paleo-cristã da época das invasões, in História da Arte, vol. 2, Lisboa, 1986.
Intervenção Realizada:
Séc. 18, 2ª metade - escavações patrocinadas por D. Maria I; 1850 - a Sociedade Arqueológica Lusitana procede a explorações em casas de habitação; 1924 / 1933 - escavações dirigidas por Marques da Costa; 1948 / 1955 - Dr. Leite de Vasconcelos; 1963 - início dos trabalhos arqueológicos dirigidos pelo Prof. Manuel Heleno e Dr. D. Fernando de Almeida; 1976 - assentamento de uma estrutura metálica para defender os frescos da capela paleo-cristã.
As Ruínas de Tróia
por António Cavaleiro Paixão
CONJUNTO FABRIL DE CONSERVA DE PEIXE
A estação arqueológica de Tróia constitui um dos mais interessantes conjuntos fabris de conserva de peixe do Império Romano. Construído nos inícios do séc. I d.C., manteve-se em plena actividade até, praticamente, ao séc. IV d.C., momento a partir do qual entra num período de irreversível decadência. Estendendo-se outrora por uma faixa de quase 2 Km, este complexo conserveiro mantém ainda uma apreciável densidade de construções, testemunho da intensa actividade industrial e comercial que nele se desenrolava. A origem do nome "Tróia" ainda hoje permanece um mistério. A primeira referência a este topónimo, de que há notícia, data do séc. XVI, e poderá dever-se, tão-somente, à circunstância dos espíritos cultos da época se sentirem tentados a assemelhar estas ruínas à Tróia homérica, aliás, de latitude, cronologia e natureza bem diversas.
INDÚSTRIA E COMÉRCIO
Tróia não foi um ponto isolado no Ocidente europeu. Na verdade, este centro conserveiro fazia parte de uma complexa cadeia comercial que, centrada no Mar Mediterrâneo, o "Mare Nostrum" dos Romanos, garantiu o fornecimento de produtos do mar a todos os grandes núcleos populacionais do Império, incluindo a própria cidade de Roma. Os tanques de salga, de formato triangular e de diferentes tamanhos, agrupados em núcleos independentes separados por muros de alvenaria, destinavam-se a conter o peixe e os ariscos obtidos no rio ou trazidos do alto mar. Aí eram lavados, separados segundo as espécies, e salgados. As vísceras, devidamente seleccionadas, a que eram adicionadas ervas aromáticas de diferente natureza, sofriam um tratamento de maceração e fermentação, delas se obtendo o "garum", espécie de pasta ou molho que servia para condimentar os alimentos. Acondicionado em ânforas ou em vasilhas de menores dimensões, era exportado para diversas partes do mundo romano, onde era altamente apreciado, chegando, por vezes, a atingir preços exorbitantes.
OUTROS ASPECTOS DO COMPLEXO ARQUEOLÓGICO
Para além dos tanques de salga, revestidos de "opus signinum", de que foram, até hoje, descobertos para cima de cinquenta, é de assinalar a existência de uma área habitacional, de um balneário, de três zonas de enterramento, e de um núcleo religioso. A concorrência destes testemunhos de diferente natureza, numa zona praticamente isolada, cuja via de acesso principal seria a marítima ou fluvial, é, já por si suficientemente elucidativa da importância que este centro adquiriu na Antiguidade. Embora dependendo do exterior para a obtenção de vasilhame, de produtos agrícolas e pecuários, criou as estruturas suficientes para assegurar a presença no local de uma população activa responsável pela manutenção desta indústria durante um período de, pelo menos, quatro séculos.
Basílica Paleocristã
Dos edifícios religiosos destaca-se a basílica paleocristã. De quatro naves, com forma irregular “… nas partes conservadas das suas paredes vemos pinturas a fresco que imitam mármores na mancha dos lambris. Nas partes superiores, umas mostram-nos temas geométricos , polígonos ou círculos com aves e outras imitações ilusionistas de remates de travejamento. No apoio da cobertura havia, pelo menos, algumas arcadas transversais, de que vemos alguns arranques decorados com florões saindo de taças e um cantharus que já arremeda os jarros litúrgicos do século VII. Desde o crismon, que Marques da Costa nos deu a conhecer e entretanto destruído, aos florões e aos temas geométricos, vemos toda uma gama decorativa de inspiração paleocristã que não nos parece anterior ao século VI. Algumas sepulturas do tipo mensa, muito evoluídas, cobertas por uma placa de mármore bordejada de molduras de opus signinum, sem qualquer espólio no interior, não desdizem desta datação, bem como o facto de estarmos diante de um espaço funerário implantado dentro dos limites da cidade romana. Mais tarde esta basílica recebeu uma espécie de abside quadrangular alteada, adaptando-se ao serviço religioso de então.” (Carlos Alberto Ferreira de Almeida).
“O carácter religioso do local parece ser anterior à construção da basílica. Aí foi exumado um políptico esculpido que tem sido interpretado como uma representação relacionado com o culto mitraico em que se vê os deuses sol e Mitra (…) e fragmento de um sarcófago de mármore branco…” (Carlos Tavares da Silva). O culto mitraico com origem na Pérsia, chegou ao Ocidente no decorrer do século II d.C., através das legiões romanas, implantando-se entre os grupo económicos mais abastados.
Necrópole
As práticas de enterramento em Tróia permitem acompanhar um período temporal que vai do século I d.C. ao século VI d.C. e analisar a evolução dessas práticas e atitudes mentais perante a morte.
Um primeiro momento leva-nos à prática de incineração (queima dos corpos), comum a todos os povo indo-europeus e na qual se incluem os romanos e as populações indígenas da Península.
Esta prática está representada pela sepultura de Galla (datada so século I d.C.), um monumento epigráfico que se encontra no Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal. Nestas sepultura as cinzas estavam acompanhadas por uma taça de bronze, um púcaro de cerâmica, dois ungentários em vidro, duas lucernas do século I d.C. e instrumentos de toilete e de lavores em osso. A partir do século II d.C. começou a impor-se lentamente a prática da inumação (deposição do corpo) como consequência da crescente influência das religiões oriundas da Pérsia do Mediterrâneo Oriental, como o culto Mitraico e o Cristianismo.
Está neste caso o fragmento do sarcófago, descoberto sob a basílica paleocristã, onde está esculpida uma cena de transporte do morto em carro de bois para um espaço delimitado por uma rede e defendido por um animal feroz.
Datado de finais do século II d.C. ou do século III d.C., o sarcófago, pela sua qualidade artística reflecte a adesão dos grupos sociais mais abastados à nova religião.
Próprio de um período com domínio da prática da inumação é o mausoléu. Construído numa época em que o complexo industrial já estaria em regressão e portanto com fábricas abandonadas (talvez finais do século IV d.C.), o mausoléu, de planta rectangular e paredes reforçadas por contrafortes, tem o pavimento completamente preenchido por sepulturas de inumação e nichos nas paredes onde poderiam ter sido depositadas urnas.
Nas traseiras e na frente do mausoléu, encontram-se igualmente espaços funerários. Não possuem cronologias seguras para estas zonas funerárias. É possível que tivessem sido utilizados numa época em que o complexo industrial já estava em acentuado estado de abandono. No espaço das traseiras foram utilizadas como urnas, ânforas produzidas no final do império e no espaço da frente do mausoléu utilizaram-se os próprios tanques para os enterramentos.
Este momento ocorreu, possivelmente, no século VI, quando o complexo industrial já não funcionava, sendo Tróia habitada por pescadores que aproveitavam aquele espaço para enterrar os seus mortos.
O carácter religioso do local manteve-se até aos nosso dias através da capela de Nossa Senhora de Tróia.
http://www.troiaresort.com/
Agradeço as fotos do video ao amigo Ricardo Soares
quinta-feira, 7 de outubro de 2010
Dólmen da Orca
Localização
Portugal, Viseu, Carregal do Sal, Oliveira do Conde
Acesso
EN 234 em Fiais da Telha, a 1Km por caminho rural; depois de contornar o Estádio das Gandaras à esquerda; na primeira bifurcação à esquerda e depois em cruzamento, de novo à esquerda
Enquadramento
Rural, isolado, em clareira plana, de interesse paisagístico rodeada de mata de pinheiro bravo; destacado, harmonizado.
Descrição
Câmara poligonal com nove esteios estando dois deles partidos; chapéu de cobertura; corredor longo, com oito esteios de um lado e sete do outro, tendo junto à câmara dois esteios de cobertura; vestígios da mamoa até, sensivelmente, à altura dos esteios do corredor
Utilização Inicial
Funerária: dólmen
Utilização Actual
Marco histórico-cultural: dólmen
Propriedade
Pública: municipal
Funerária: dólmen
Utilização Actual
Marco histórico-cultural: dólmen
Propriedade
Pública: municipal
Cronologia
Período megalítico - construção da orca, existindo uma nas proximidades, em Azenha; 2006 - tratamento dos acesso e colocação de placas identificadoras.
Tipologia
Arquitectura funerária, megalítica. Dólmen de câmara poligonal e corredor desenvolvido alteando à medida que nos vamos aproximando da câmara, com oito esteios e chapéu.
Intervenção Realizada
1986 / 1988 - escavação Arqueológica; 1994 / 1995 - escavação arqueológica, encontrando-se, como espólio, entre outras, pontas de setas em sílex e quartzo, bem como recipientes em olaria; séc., finais - escoramento do corredor.
Observações
Na freguesia, surgem mais monumentos deste tipo, como a Lapa de Santo Tisco, Penedo das Cruzes, Orca I do Ameal, Orca II do Ameal, Orca da Palheira ou Orca I de Oliveira do Conde, Orca II de Oliveira do Conde, Orca do Outeiro do Rato, Orca do Santo.
terça-feira, 21 de setembro de 2010
Ruínas Romanas do Cerro da Vila
Localização
Portugal, Faro, Loulé, Quarteira
Acesso
Cerro da Vila, no complexo turístico de Vilamoura.
Descrição
Ruínas de uma Villa romana constituída pos dois núcleos residenciais, o princiapal junto ao porto, balneário, necrópole, barragem e salgas de peixe. Dos núcleos habitacionais e do balneário restam vários compartimentos, entre os quais o impluvium o atrium e o tablinum; existem frisos de mármore e fragmentos de estuque pintado que decoravam as paredes, bem como restos de pavimentos de mosaico polícromo. 2 tanques rectangulares serviam um estabelecimento de salga de peixe ( PAÇO e FARRAJOTA, 1966 ). Necrópole com restos de mausoléus.
Cronologia
Séc. 1 - construção da villa ininterruptamente ocupada durante os períodos visigótico e árabe; 1999 - incluido no Programa de Valorização e Divulgação Turística - Itinerários Arqueológicos do Alentejo e Algarve, do Ministério do Comércio e Turismo e da Secretaria de Estado da Cultura; 2000 - construção centro de acolhimento e interpretação sob projecto do Arq. Fernando Galhano.
Tipologia
Arquitectura civil, romana. Villa romana cujo espólio arqueológico documenta ocupação ininterrupta até ao Séc. 11. O conjunto abrange uma vasta área da qual se destacam dois núcleos residenciais, o principal junto do porto, o balneário, estruturas destinadas à salga do peixe, necrópole tardo-romana e barragem romana que servia a villa através de vasto sistema de canalizações do qual restam alguns troços.
sábado, 4 de setembro de 2010
Fragas de Panóias
Enquadramento
Urbano, periférico, plataforma em encosta de pendor suave, coberta de vegetação rasteira, sobranceira a uma linha de água afluente do Ribeira da Tanha. O santuário ocupa uma grande extensão de terreno, atravessando a aldeia do Assento.
Descrição
Santuário rupestre, conservando quatro rochedos nos quais estão cavados cavidades de formato rectangular, de diferentes tamanhos, e pias circulares, possuindo seis inscrições dedicadas a deuses indígenas, romanos e orientais. Quatro destas são consagradas por G. C. Calpurnius Rufinus, legatus iuridicus, sendo igualmente mencionados os Lapiteas, possivelmente os habitantes desta área, encontrando-se quatro destas inscrições num mesmo rochedo, situado na extremidade S. do santuário. São ainda visíveis em três rochedos os entalhes para o assentamento dos alicerces dos templos que se deverão ter erguido sobre estes, tipo de estruturas aliás referidas em duas inscrições, bem como orifícios circulares de possíveis gonzos de portas, possuindo o penedo da extremidade N. escadas para acesso à plataforma superior onde se encontram as estruturas. Este rochedo, com uma altura de c. de 3,5 m e em local que domina o conjunto da esplanada, tem a particularidade de apresentar uma disposição dos tanques que denuncia uma sobreposição de estruturas, num momento mais avançado da utilização do sítio.
Descrição Complementar
INSCRIÇÕES: Inscrições gravadas numa das rochas (segundo António Rodriguez Colmero); (1) leitura: DIIS CVM AEDE ET LACV M QVI VOTO MISCE TVR G. C. CALP. RVFI NVS V.C.; tradução: Aos Deuses, com o aedes e o tanque, a passagem subterrânea, que se junta por voto; (2) tradução: O esclarecido varão Caio Calpúrnio Rufino, filho de Caio, consagrou, junto com um lago e os mistérios, (um templo) ao mais alto Deus Serápis; (3) leitura: DIIS DEABVSQVE AE TERNVM LACVM OMNI BVSQVE NVMINIBVS ET LAPITEARVM CVM HOC TEMPLO SACRAVIT G. C. CALP. RVFINVS V. C. IN QVO HOSTIAE VOTO CREMANTUR; tradução: A todos os Deuses e Deusas, a todas as divindades, nomeadamente às do Lapiteas, dedicou este tanque eterno, com este templo, Gaius C. Calpurnius Rufinus, vão esclarecido, no qual se queimam vítimas por voto; (4) leitura: DIIS SEVERIS IRATIS HIC LOCATIS G. C. CALP. RVFINVS V. C.; tradução: Aos Deuses infernais irados que aqui moram, (dedicou) Gaius C. Calpurnius Rufinus, varão esclarecido.
Cronologia
Séc. 02 d.C., finais / 03 d.C., inícios - Provável construção, por ordem de Gaius C. Calpurnius Rufinus, membro da ordem senatorial e alto funcionário do governo provincial da região às ordens de Roma; séc. 18 - O Contador de Argote descreve as fragas de Panóias; segundo descrição o santuário era constituído por 11 rochedos; 1721 - relação da fregiesia de São Pedro de Vale de Nogueiras, feito pelo Reitor António Rodrigues de Aguiar, dando conta do património da freguesia, nomeadamente das fragas de Panóias; 1854 - o viajante inglês, W. Kinston menciona no relato da sua viagem as fragas; 1880 - Gabriel Pereira visita Panóias e examina as fragas, descrevendo-as e desenhando-as; séc. 19, finais - descoberta de uma inscrição funerária, actualmente depositada no Museu da Sociedade Martins Sarmento, em Guimarães; 1992, 1 Junho - o imóvel foi afecto ao IPPAR, pelo Decreto-lei 106F/92; 2002, Maio - abertura de concurso público pelo IPPAR para adjudicação da empreitada de remodelação de duas construções para instalações de apoio / centro interpretativo / recepção de visitantes no Santuário de Panóias, cujos trabalhos serão financiados por apios comunitários; 2004 - descoberta de duas inscrições aquando da demolição de dois casebres no perímetro do Santuário, numa fraga onde já existem algumas cavidades.
terça-feira, 31 de agosto de 2010
Castelo de Paderne
O castelo de Paderne foi, no Período Almóada, um pequeno hisn, ou seja, um pequeno povoado fortificado que era o centro de um território rural.
Data do ano de 1189, o primeiro testemunho escrito da sua existência, quando é enumerado entre os castelos islâmicos do Algarve, no texto de um cruzado anónimo que, a caminho da Terra Santa, participou na primeira conquista de Silves. Localiza-se, estrategicamente, no cimo de uma colina de 90 m de altitude que corresponde um meandro bem demarcado do percurso da ribeira de Quarteira. As encostas, NO, SO e SE, adjacentes à muralha, são íngremes, com inclinações bastante acentuadas. Tem um único recinto amuralhado de forma trapezoidal irregular que não ultrapassa um hectare. Possui um único acesso ao interior, defendido por uma torre albarrã de planta quadrangular que se une à muralha através de um adarve (palavra árabe al-darb que significa caminho, ruela. Corresponde a uma plataforma no topo das muralhas, destinada à circulação de pessoas e ao transporte de materiais e armas). A construção em taipa devido à sua versatilidade, qualidade, simplicidade de execução e abundância de matéria prima (terra ou solo), adaptou-se, graças ao aumento da percentagem de cal. A dinastia almóada foi exímia na construção de muralhas em taipa militar. A taipa é uma técnica de construção que se faz por módulos denominados taipais. Quando estava terminado o novo módulo de taipa, recuperava-se o taipal que era recolocado para se acrescentar um novo módulo à fiada que se pretende executar,assim o módulo pronto passava a ser diariamente regado e tapado com uma serapilheira. A secagem da taipa necessitava de ser lenta, afim de evitar a retracção e expansão dos materiais e, o consequente aparecimento de fissuras.
Fonte: www.castelodepaderne.blogspot.com
Agradeço ao blog do Zé pelo texto e o filme
quarta-feira, 25 de agosto de 2010
Capela de São Frutuoso de Montélios
Designação
Capela de São Frutuoso de Montélios / Capela de São Salvador de Montélios
Localização
Portugal, Braga, Braga, Real
Acesso
EN. 201, à saída de Braga em direcção a Ponte de Lima; Lug. da Igreja ou de Montélios
Enquadramento
Rural, adossada à fachada lateral E. da Igreja do Convento de São Francisco (v. PT010303370014), situada em plano mais elevado do que esta. O acesso principal é feito através do interior da igreja. Encontra-se rodeada por pequeno adro, fechado por muro gradeado, apenas com acesso através igreja e da capela. A E. situam-se as ruínas das antigas dependências conventuais e em plano mais baixo a Fonte de Santo António (v. PT010303370063). Na proximidade, a SE., calçada antiga, em lajeado de granito, e a O., a Quinta do Lago (v. PT010303370220) e a Escola Primária de Real (v. PT010303370209).
Descrição
Planta centralizada em cruz grega, exteriormente rectilínea e interiomente com os braços N., S. e E. semicirculares, e braço O. e cruzeiro quadrangular. Volumetria de dominante horizontal, quebrada pela elevação torriforme sobre o cruzeiro. Coberturas em telhados de duas águas nos braços e em quatro águas no cruzeiro. Fachadas em cantaria opus quadratum de granito, com embasamento escalonado, rematadas por cornija sob beiral, precedida por friso em calcário, com decoração de cordas, semicírculos, rosetas de seis pontas e flores de liz. As fachadas dos braços são animadas por arcadas cegas, alternadamente em arco de volta perfeita e arco angular, interrompidas por estreito friso calcário com corda. As fachadas da torre do cruzeiro são percorridas junto à cornija de remate por arcatura lombarda, usando alternadamente duplo arco em ferradura e arco angular, apresentando cada uma das faces pequena janela de iluminação, de duplo arco quebrado, sendo a janela virada a S., mainelada. Fachada principal orientada, adossada à fachada lateral da igreja, com acesso pelo interior da mesma, através de grande arco de volta perfeita, fechado por grade de ferro, com escadaria. Topos dos braços rematados por frontão triangular, apresentando o do braço S., ao centro, porta de verga recta e os dos restantes braços, pequena janela em arco de ferradura. Na face N., do braço E., abre-se arcossólio, onde estariam originalmente os restos mortais de São Frutuoso. INTERIOR com paredes em cantaria aparelhada, com os braços definidos por arcos de volta perfeita, assentes em largas pilastras percorridas superiormente por largo friso com decoração de acantos, com triplas arcadas em ferradura, sendo o arco central de maiores dimensões, assentes em colunas de fuste liso com capitel de decoração igual ao friso das pilastras. Os braços são percorridos a meio da parede por estreito friso de calcário. Cobertura dos braços em madeira, com o travejamento à vista, e do cruzeiro por cúpula semiesférica rebocada e pintada de branco, assente em pendentes que se unem às mísulas dos ângulos. Pavimento em laje de granito com sepulturas com inscrição e pedra de armas.
Época Construção
Séc. 7 / 9 / 10 / 20
Arquitecto Construtor Autor
João de Moura Coutinho e Sousa Lobo (restauro da capela).
Cronologia
C. de 560 - Segundo a tradição, existia naquele local uma villa romana e provávelmente um templo dedicado ao Deus Esculápio; c. de 656 - São Frutuoso, Bispo de Bracara, funda naquele local o Mosteiro de São Salvador, mandando construir a capela, para seu túmulo; na descrição da vida de São Frutuoso, São Valerius menciona que o santo havia fundado um convento "ubi sanctum suum humatum est corpus"; 665 / 666 - morre São Frutuoso; séc. 9 / 10 - reconstrução e redecoração da capela; 883 - segundo documento datado deste ano, a igreja seria consagrada a São Salvador e teria sido construída entre os anos de 656 e 665; séc. 12 - após a Reconquista, com o renascer do ideal neogodo, começa o culto a São Frutuoso; 1102 - o Arcebispo de Santiago de Compostela, D. Diogo Gelmires, leva os restos mortais de São Frutuoso para Compostela; 1523 - o Arcebispo D. Diogo de Sousa funda um convento franciscano da Ordem dos Capuchos da Piedade, junto à Capela de São Frutuoso, destruindo provavelmente, o antigo Mosteiro de São Salvador; 1696 - segundo Frei Manuel de Monforte, na sua Crónica da Província da Piedade, a capela "he em Cruz para todas as partes igual; cujas pontas fazem quatro Capellas, que as paredes fecham em meyo circulo. Huma das Capellas, que podemos chamar o pé da Cruz, serve de entrada onde està a porta; outra que direitamente responde a esta, como cabeça das hastes da Cruz, serve de Capella principal, onde està o Altar mayor; nas outras duas, que ficam nos braços, estam os dous Altares collateraes; & tendo cada huma só dezasete palmos, & meyo de largo, neste tão pequeno espaço tem a Egreja vinte & quatro collunas: quatro naquella primeira entrada da porta, seis em cada Capella collateral, & oito na principal de todas..."; 1728 - por ordem do Arcebispo D. Rodrigo de Moura Teles, dá-se início à reconstrução e remodelação da igreja do convento de São Francisco, sendo a Capela de São Frutuoso integrada na igreja e passando a ter acesso principal através do interior desta; é destruida a fachada principal, os baldaquinos internos e respectivas colunas, e são modificados os braços E. e N; 1897 - o Arquitecto Ernesto Korrodi projecta restabelecer a planta original da capela e publica uma pequena nota intítulada "Um Monumento Latino-Bizantino em Portugal"; 1931 - início dos trabalhos de restauro conduzidos por João de Moura Coutinho e Sousa Lobo orientado pela tese de que o monumento teria sido mandado construir por São Frutuoso para sua sepultura no séc. 6, segundo o modelo do mausoléu de Gala Placídia de Ravena.
Tipologia
Arquitectura religiosa, visigótica e moçárabe. Capela funerária de planta centralizada, em cruz grega, exteriormente rectilínea e interiomente com os braços N., S. e E. semicirculares, e braço O. e cruzeiro quadrangular. Fachadas animadas por arcadas cegas, em arcos de volta perfeita e arcos quebrados. Torre do cruzeiro com banda lombarda em arcos de ferradura alternados com arcos quebrados. No interior, os braços são delimitados por triplas arcadas em ferradura, que originalmente, se estenderiam e percorreriam os braços semicirculares. Coberturas em madeira com travejamento à vista, nos braços e cúpula semiesférica no cruzeiro. A primitiva edificação visigótica segue o modelo bizantino da cruz grega, com torre elevada sobre o cruzeiro, idêntico ao mausoléu de Gala Placídia, em Ravena. Segundo alguns autores, os braços de planta semicircular, triplas arcadas, em ferradura e a presença geometrizante das arcadas cegas e da banda lombarda, denotam a influência moçárabe. Utilização de frisos em calcário de Coimbra, contrastando com o granito, com decoração de rosetas de seis pontas, à semelhança do que acontece na Igreja de São Torcato (v. PT010308650017), em Guimarães *2.
Características Particulares
A emblemática Capela de São Frutuoso, continua a ser um enigma para vários autores, mas com a certeza que é um dos raro exemplares visigóticos, que chegaram aos nossos dias, e o único de planta em cruz grega que possivelmente segue o modelo bizantino do mausoleú da Gala Placídia, em Ravena. No interior a decoração dos capitéis das triplas arcadas é igual ao friso que remata as pilastras do cruzeiro.
Dados Técnicos
Estrutura mista.
Materiais
Estrutura e pavimento em cantaria de granito; frisos e capitéis em Pedra de Ançã; colunas de mármore; porta e estrutura da cobertura em madeira de castanho; cúpula em tijolo de burro; cobertura em telha de canudo.
Bibliografia
Tesouros Artísticos de Portugal, Lisboa, 1976; COUTINHO, João de Moura, São Fructuoso, Braga, 1978; ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de, Arte moçárabe e da Reconquista, in História da Arte em Portugal, vol. 2, Lisboa, 1986, p. 95 - 145; HAUSCHILD, Theodor, Arte visigótica, in História da Arte em Portugal, Lisboa, 1986, vol. 1, p. 149 - 169; IPPAR, Património Arquitectónico e Arqueológico Classificado, Inventário, vol. 2, Lisboa, 1993; IPPAR, www.ippar.pt, 9 Janeiro 2004.
Fonte:www.monumentos.pt
quarta-feira, 18 de agosto de 2010
Creiro
Descrição
Unidade fabril de salga de época romana. A fábrica de salga apresenta planta rectangular, com 13 m de comprimento (direcção ENE-WSW) e 4,6 e 4,8 de largura. Foi completamente murada e possui onze tanques e um pátio que abre para o exterior, a sul. Apresenta uma abertura de 1,4 m no lado sul, servida por soleira formada por dois grandes blocos de calcário conquífero com pequeno degrau frustamente talhado. É admissível acreditar na construção desta fábrica em meados/terceiro quartel do século I d.C.
Período: Romano e Medieval Islâmico
Tipo: Cetária
Distrito/Concelho/Freguesia: Setúbal/Setúbal/São Lourenço
Base de Dados : http://www.igespar.pt
Agradeço a Ricardo Soares pelas fotos (http://fotoarchaeology.blogspot.com/)
domingo, 15 de agosto de 2010
Os Berrões
O termo "berrão", como se designa o porco inteiro por castrar, foi tomado pelos arqueólogos para designar as estátuas zoomórficas de pedra representando porcos, touros e outros animais.O povo chama berrões (os espanhóis verracos) aos porcos inteiros ou de cobrição.Os arqueólogos tomaram esta palavra como designação geral das estátuas proto-históricas zoomórficas de pedra, representando especialmente porcos e touros.No nordeste de Portugal conhecem-se até agora 49 dessas estátuas, sendo 37 de porcos, 3 de javalis, 7 de touros, 1 de bode e 1 de urso. Dessas 49, são transmontanas 45 e 4 logo a sul do rio Douro perto da fronteira.São quase todas de granito, menos a chamada Berroinha da Açoreira (Moncorvo) que é de talco, e o porco da Fonte de Linhares (Carrazeda de Ansiães), desaparecido, que era de mármore.Apenas 9 se conservam íntegros. Os outros foram mais ou menos mutilados. Alguns são mesmo verdadeiros destroços. As estátuas que se conservam inteiras ou aquelas de que resta a parte traseira têm, quase todas, os caracteres do sexo masculino bem patentes; isto é, são estátuas de machos.De 27 dessas estátuas sabe-se, averiguadamente, que foram encontradas em castros. As outras é bem possível que tenham tido a mesma origem.São exemplos a chamada Porca da Vila, de Bragança, e a célebre Porca de Murça. Note-se que ambas estas estátuas são machos, a primeira representa um urso, e a segunda, embora alguns autores antigos a refiram como urso, a sua morfologia leva-nos a considerá-la mais como porco. Refira-se ainda a titulo de exemplo os 15 berrões do castro do Monte de Sta Luzia (Freixo de Espada-à-Cinta), 13 porcos e 2 touros, alguns muito mutilados. Os 7 berrões das Cabanas (Moncorvo), grandes porcos de granito, encontrados perto da confluência da Ribeira da Vilariça com o rio Sabor. Refira-se o grande berrão de Picote, descoberto em 1952 num recinto de parede circular com cerca de 3 metros de diâmetro, seguido de um corredor de 9 metros de comprido por metro e meio de largura.Especialmente no corredor, na escavação feita em 1952 e 1953, apareceram muitos ossos de boi, de cabra ou ovelha, alguns, poucos, de porco, e menos ainda de coelho.A posição do berrão, a meio do recinto circular, voltado para o corredor, e a natureza dos ossos, considerados restos de comida, levam a crer que naquele monumento era prestado culto ao porco.O achado de Picote, único caso em que o berrão foi achado in loco, permite considerá-lo como um ídolo, ou divindade, a quem se prestaria culto como animal sagrado.Quanto à cronologia e etnologia, passados em revista os pareceres que tem sido formulados por vários autores, poder-se-a considerar a cultura dos berrões como pré-céltica e devida aos Draganos.Algumas conclusões:A quantidade de berrões, no nordeste do nosso país, nada menos de 49, a monumentalidade de alguns, com 2 metros de comprimento, e, por outro lado, a pequenez de outros, verdadeiras estatuetas votivas, levam, imediatamente, a pensar que tais berrões, grandes e pequenos, constituem claras manifestações de um velho culto zoolátrico, no qual certos animais eram considerados sagrados, possuindo, seguramente, mágico poder tutelar.Ao observar as estatuas de pedra de que nos ocupamos, algumas pequenas e outras reproduzindo em tamanho natural porcos, javalis, touros e ursos, imediatamente ocorre que algo de importante e muito ponderoso deve ter influenciado a modelação de tais estátuas.A veneração e consequente adoração dos animais deve ter começado naturalmente, por uma atitude de reconhecido agradecimento do homem pelos benefícios por eles prodigializados.O culto por certos animais é possível seja reminiscência de velho totemismo. No que respeita aos porcos de pedra de Trás-os-Montes não me parece hipótese a considerar.Tótem, como é bem sabido, é a coisa, ser vivo animal ou planta, região ou acidente geográfico, porção de matéria inanimada ou entidade astral, que é considerada como o tronco inicial, remoto, de um grupo de homens, o grupo totémico.O tótem, em primeiro lugar, é pois o antepassado do grupo, em segundo lugar é o seu espírito protector, o seu benfeitor, que envia oráculos e, mesmo quando é perigoso para os outros, conhece e poupa os seus filhos.As pessoas de determinado tótem, respeitam-no e tem para com ele deveres e obrigações sagradas, cuja violação acarreta castigo eminente.Tais obrigações exigem respeito formal e categórico pelo tótem o que implica não o molestar, não lhe causar o menor dano, e muito menos matá-lo. Consequentemente é rígido tabu comer a sua carne.Parece mais lógico admitir que o culto das gentes por certos animais, porco, touro e bode ou cabra, o seja como reflexo de reconhecimento e gratidão pelos benefícios e proveitos recebidos.Ora o porco, animal de fácil criação em domesticidade estabular ou em regime de pastoreio, à vezeira, é, sem dúvida, ainda hoje, o animal mais prestadio da culinária transmontana.A carne de porco, quer fresca, nas febras, nos rijões e no lombo assado, quer curada nas linguiças, nos salsichões e nos presuntos, é altamente apreciada. A superioridade culinária da mesma é celebrada pelo povo de Trás-os-Montes quando afirma: "Das carnes o carneiro, das aves a perdiz, e, sobretudo a codorniz, mas se o porco voara não havia carne que lhe chegara".O achado do grande berrão de Picote, de pé, a meio da câmara circular do monumento em forma de palmatória, câmara seguida de um corredor cuja escavação forneceu numerosos fragmentos de animais vários e também pedaços de louça de barro, vasos e pratos, encontrados especialmente no corredor, atesta, sem a menor dúvida, que aquele porco se pode considerar um ídolo, ao qual se prestaria culto em cerimónias rituais com deposição de oferendas.O notável achado de Picote, infelizmente destruído, atesta, seguramente, a existência de um velho culto prestado ao porco.Pelo conjunto de circunstância daquele achado pode concluir-se que o monumento de Picote era, como que um templo, em que se prestava o culto ao porco divinizado.Suponho não ser ousado atribuir significado zoolátrico às estátuas dos berrões, muitas delas averiguadamente originárias dos nossos castros transmontanos, pelo que se poderá generalizar a mesma origem a todos os berrões, e, daí, tal zoolatria ser de origem essencialmente originária daquela zona castreja transmontana.Com os elementos de que actualmente dispomos não se pode dizer que tal culto estaria ligado só à defesa dos gados e à magia dos pastos e da reprodução, como queria Cabré em face dos exemplares de touros que encontrou nas Cojotas, num recinto de encerramento de gados.
Este distinto arqueólogo espanhol afirmou não lhe restarem dúvidas quanto a tais berrões corresponderem a culto de magia protectora dos gados. Tais estátuas teriam a finalidade de esconjurar calamidades, roubos, doenças e outros malefícios a que estão sujeitos os animais das manadas ou rebanhos.Esta hipótese de significado exclusivamente ganadeiro tem, desde já, um argumento contra: é a interpretação de uma das legendas em caracteres ibéricos gravada num dos verracos de las Cojotas, que foi traduzida assim: "Deus porco bravo protector da cidade de Adoja" .Nesta leitura, que poderá, no entanto, considerar-se hipotética, há um sentido lato de deus protector da cidade.Porque havemos de restringir a sua acção protectora só aos gados e não considerar a sua influência tutelar extensiva às gentes, suas pessoas e casas, a todos os seus haveres e, consequentemente também aos seus gados?O facto de esculpir em granito rude as estátuas zoomórficas dos berrões, alguns de proporções avantajadas, pois chegam a atingir os dois metros de comprimento, deve corresponder a uma intenção séria e reflecte, seguramente, um estado de espírito da colectividade, coordenador dos esforços conducentes ao arranque, desbaste, e modelação da pedra em estátuas, a que se seguiria o seu transporte e assentamento dentro do recinto muralhado do castro. E já não aludo ao monumento no género do de castro do Poio de Picote, de câmara circular e corredor, que talvez tivesse réplicas para instalação dos berrões que, averiguadamente, tem sido achados em castros.
quarta-feira, 11 de agosto de 2010
Anta da Cunha Baixa
Anta de corredor com câmara poligonal do período Neo-Calcolítico, desprovida de mamoa. É coberto por amplo e espesso chapéu rectangular, com 4,5m de diâmetro. O corredor, muito longo, compõem-se de oito esteios de cada lado, consolidados, e de forma rectangular, havendo também alguns trapezóidais e triângulares na câmara. A meio do corredor surge outro chapéu, um pouco menor que o primeiro. O pavimento é regular, composto por pequenas lages graníticas. Alguns dos esteios apresentam gravuras, vestígios de traços e de fossetes, e foi recolhido espólio de características semelhantes ao descoberto na escavação de Leite de Vasconcelos.
http://www.igespar.pt/
domingo, 8 de agosto de 2010
Castro de Monte Mozinho
Descrição
Povoado fortificado, com uma área de 20 ha intramuros, defendido por 4 linhas de muralhas que circundam o povoado. Apresentam uma espessura máxima de c. de 3,5 m junto às portas, sendo estas existentes nas linhas defensivas interiores. O povoado está estruturado por 1 arruamento principal orientado N. - S. articulado com outros arruamentos transversais, em alinhamentos predominantemente ortogonais, que lhe conferem uma planta de tipo regular. As intervenções realizadas permitiram exumar construções de planta circular, com ou sem vestíbulo e de planta quadrangular, sendo as estruturas habitacionais integradas por várias destas construções, enquadradas pelos arruamentos e definidas por um muro, formando um quarteirão. Na plataforma superior do povoado encontra-se um vasto recinto elipsoidal, definido por uma muralha, não apresentando qualquer outro vestígio construtivo, podendo ter servido como espaço público de características indeterminadas. Junto da porta da muralha superior e do arruamento principal, com acesso por este através de uma rampa em cotovelo, encontra-se um possível templo constituído por uma cella quadrangular assente num ligeiro podium com entrada pelo lado maior e apresentando o espaço frontal lajeado e estando ladeado por outras construções de planta rectangular. Na plataforma exterior à terceira muralha encontra-se um possível monumento funerário, muito arruinado, apresentando um alicerce de bom aparelho, havendo no centro uma cavidade rectangular perfeita, conservando ainda algumas pedras com moldura, devendo tratar-se de um mausoléu turriforme com colunas e esculturas, elementos que se encontraram em seu redor. A NO junto à muralha exterior detectou-se uma necrópole constituída por caixas sepulcrais estruturadas com pequenas pedras, cobertas por ardósia, apresentando duas sepulturas, em nível inferior ao da cobertura uma espécie de prateleira onde estava depositado recipientes cerâmicos.
Tipologia
Povoado fortificado proto-histórico, com planta tipo regular, estruturado por um arruamento principal articulado com outros transversais, circundado por quatro linhas de muralhas, e revelando vestígios de ocupação em época romana e medieval.
Fotos :Google
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