Um avivar das raizes

Um avivar das raizes

terça-feira, 26 de abril de 2011

Igreja de São Gião

A localização da Quinta de São Gião, lugar onde se encontra o Templo (Igreja) com o mesmo nome, normalmente passa despercebido ao trajecto das pessoas que visitam a zona da Nazaré, visto que são poucas as indicações existentes. Muito há a fazer pela Quinta de São Gião; é mais um lugar que trará muito turismo à Nazaré. Para tal é necessário restaurar o pequeno templo cristão-visigodo dedicado a São Gião e que ali existe desde 656-665 d.c. O monumento foi nitidamente ‘encaixotado’ treze séculos depois de ter sido construído. O templo foi classificado Monumento Nacional por Decreto do Governo 1/86, de 3 de Janeiro,e têm sido encontrados varios objectos nas escavações efectuadas no lugar: uma estátua de São Sebastião, uma Ara Romana anepígrafa (pedra de altar), um túmulo monolítico, um cipo funerário romano, uma lucerna Moçárabe, moedas desde o reinado de D. Sancho I (1201) entre outros objectos.




Alguns autores datam-na do século X, já que apresenta elementos arquitectónicos e decorativos já influenciados pelo estilo moçárabe. Outros autores, ainda, descrevem o templo como sendo o que resta de um pequeno cenóbio de monges cristãos do período visigótico que se teria mantido em funções durante o período de ocupação muçulmana como local de residência de monges cristãos moçárabes.
Referências antigas a respeito do templo são fornecidas por Frei Bernardo de Brito na sua publicação intitulada Monarchia Lusytana datada de 1597. O autor relata que o Reverendo Frey Francisco de Sancta Clara, Dom Abade Geral da Ordem (de Cister),encarregou-o de averiguar as antiguidades do local.Em relatos mais antigos outros frades, escreveram sobre o templo, dizendo que ficou despovoado devido a uma peste.
O que faz da Igreja de São Gião uma raridade arquitectónica na Península Ibérica é o facto de possuir um anteparo de três aberturas localizado entre a nave e o cruzeiro que servia para separar os acessos às práticas religiosas entre monges e leigos. No seu interior existem varios elementos decorativos: palmetas, rosetas quadrifoliadas, quadrifólios formados por losangos arqueados, Pentafólios inscritos em círculos, Cruzes com braços triangulares e iguais, fiadas de duplos losangos arqueados e inscritos em círculos e faixas rectangulares em espinha de peixe.




Em 1961 o Dr. Eduíno Borges Garcia suspeitou que São Gião era um templo Visigótico, mas não teve apoio para prosseguir a uma investigação detalhada. Posteriormente, e ao longo de alguns anos, o mesmo investigador reuniu provas suficientes para comprovar a suspeita, identificando o templo como monumento visigótico. No entanto a sua classificação como monumento-tipo representativo da liturgia da época visigótica tem sido posta em causa após estudos recentes e com os trabalhos de escavação e de Arqueologia da Arquitectura. Em resultado desses estudos, a igreja foi classificada como um dos poucos exemplares de templos asturianos conhecidos no nosso país, o que a dataria numa época posterior. Carlos Alberto Ferreira de Almeida, por exemplo, defendeu em 1986 esta tese, sustentando-a no facto de se ter recorrido, em termos de construção, a uma entrada de lintel recto sobrepujada por arco de descarga de volta perfeita, como na Igreja de São Pedro de Lourosa, e a existência de uma tribuna ocidental.


O seu orago, S. Gião era particularmente venerado na época visigótica, sendo da especial predilecção desta povoação. Referia ainda a existência de várias lápides com legendas confusas na região inculta em redor do templo, nomeadamente uma, de cuja veracidade se duvida actualmente e da qual se inferia que ali se tinha travado uma importante batalha em que as legiões romanas do cônsul Décio Juno Bruto foram vitoriosas. No cumprimento de um voto pela vitória alcançada, os romanos teriam levantado no local um templo ou altar dos deuses.

domingo, 17 de abril de 2011

Castelo de Linhares da Beira





Situado num monte, a altitude de 809 metros, nos contrafortes da Serra da Estrela, ergue-se o vetusto castelo medieval de Linhares. As suas torres, vistas de longe, tem a imponência de firmes atalaias, moldadas no granito da Serra, cujas montanhas lhe servem de pano de fundo. O local onde a fortaleza foi erguida era na proto-história um castro da 2ª idade do ferro (época de La Tène). Então, entre o séc. III a.C. e a romanização, ocuparam-no guerreiros pastores lusitanos e segundo alguns autores, chamar-se-ia Lenio. Mas talvez mais plausível será aceitarmos uma designação medieval, com paralelo na toponímia da vizinha Castela, onde aparece também Linares, como nome de povoação e antropónimo. Nos documentos medievais, dos quais o mais importante é o foral dado por D. Afonso Henriques a Linhares, em 1169, lê-se: ... «Ego Rex Alfonsus por(tugalensis) una pariter cum filiis meis qui exierant et nobis vobis hominibus (homines) de Linares qui ibidem populatoris estis per mandatum meum ...» No princípio chamava-se Linares. Depois, a partir do séc. XIV, passou a ser designada por Linhares. Da romanização, da ocupação germânica e da presença muçulmana naquele lugar, carecemos de escudos arqueológicos, embora haja comprovações toponímicas, algumas referências históricas e relatos tradicionais, que testemunham a passagem destes povos. As armas vitoriosas de Afonso III de Leão, conquistaram Linhares no ano 900, numa das grandes incursões daquele rei, para cá do rio Douro. Os muçulmanos, tempos depois da presúria de Afonso III de Leão, reconquistaram o local e a área e só em tempos de D. Afonso Henriques os cristãos garantiram a posse efectiva do lugar e a ocupação de outros pontos estratégicos da fronteira Norte-Sul, tais como Trancoso e Celorico da Beira, lugares onde o Rei Conquistador ordenou fossem construídas fortalezas e fez povoamento. De facto, observando nestes castelos os aparelhos mais antigos, verifica-se que correspondem ao tipo moçarabe (séc. XII), de que é exemplo o Castelo de Guimarães e era o modelo seguido na fortificação de um lugar. As Inquirições de 1258 dizem que os homens de Satao eram obrigados à anúduva dos castelos da Guarda e de Linhares, isto é, a trabalharem na reparação ou ampliação destes castelos. E isto porque estes castelos faziam parte do sistema defensivo daquela região. A meia lua que entra no brazão de armas de Linhares pode estar ligada a esta vitória sobre os Cavaleiros do Crescente, isto é,os Muçulmanos. De igual modo, as estrelas deste brazão, memorizam a derrota do exército leones alcançada em 1189 por cavaleiros de Linhares e de Celorico da Beira. Estes castelos tinham por alcaides dois irmãos, Rodrigo Mendes e Gonçalo Mendes. A importância estratégica deste castelo, na da defesa de Portugal, situado numa linha de penetração, que vinha de Castela chegava a Coimbra e a Lisboa, levou o rei D. Dinis, a ampliar e fortificar as muralhas de Linhares. Destas obras ressalta a Torre de Menagem. É nitidamente uma obra dionisiana, identificada pelos balcões de mata-cães, ou ladroneiras, preparados para oferecer surprezas em caso de assédio, delas jorrando setas, pelouros, agua e azeite ferventes. Um destes balcões ergue-se alguns metros acima da porta aberta a meia altura, numa das faces da torre de menagem, a principal do castelo. Ao cunhal nordeste e a face sudoeste ligam-se lanços de muralha, que correm de norte para sul, assentes na rocha e se deslocam para oeste, formando uma linha poligonal que fecha um amplo terreiro, onde se abrigava a população da vila. O Caminho da ronda, ou adarve, circunda o perímetro da muralha, de suficiente largura para não impedir o trabalho da defesa. Duas outras muralhas estenderam-se para nascente, fechadas por uma segunda Torre. Deste modo um segundo Terreiro ficava também protegido no interior. Duas robustas portas e um postigo mantém o estilo da construção inicial. O castelo de Linhares foi há anos restaurado pelos Monumentos Nacionais. O papel de Linhares na defesa de Portugal, durante a primeira dinastia, esta ligado à História Nacional. Todas as incursões militares vindas de Leão e Castela a atingiram. Na Batalha de Trancoso e na Batalha de Aljubarrota estiveram homens de Celorico e de Linhares. A importância do castelo de Linhares decaiu com a queda da cavalaria castelhana nas batalhas que referimos. O triunfo da infantaria em Aljubarrota e o aparecimento das armas de fogo modificaram os sistemas de defesa medievais, assentes na linha dos castelos roqueiros. No séc. XIV, o aparecimento de seteiras recruzetadas nos merlões e ameias do castelo de Linhares, mostram a necessidade de adaptação às armas ligeiras de fogo. Porém, os pesados canhões, os obuses e as minas tornaram vulneráveis as fortificações medievais. Daí a necessidade de as substituir por fortalezas do tipo das de Almeida. Na sua época e no seu tempo medieval, o papel defensivo do Castelo de Linhares foi fundamental e brilhante, retardando ou dissuadindo os avanços inimigos. Martim Afonso de Melo, alcaide de Linhares, seguiu D. João I de Castela movido pelos compromissos feudais e pelo interesse de benefícios. Como os não conseguiu, afastou-se. Mas o Mestre de Aviz não lhe perdoou e dispôs da vila a favor de D. Egan Coelho. Quando se deu a batalha de Trancoso, os homens bons de Linhares e os de Celorico participaram nela.

http://www.cm-celoricodabeira.pt/

domingo, 3 de abril de 2011

Mosteiro de São João de Tarouca





Foi o primeiro mosteiro da Ordem de Cister fundado em território português, no séc. XII, num local de forte tradição monástica evidenciada na própria invocação do mosteiro a São João, já que, por norma, os cistercienses dedicavam as suas abadias à Virgem Maria.Este mosteiro filiou vários outros no norte de Portugal: Fiães, São Pedro das Águias e Santa Maria de Aguiar.Na fachada da igreja existe uma inscrição que data o início da construção em 1152, e a sua sagração data de 1169.O Mosteiro está implantado junto do rio Varosa pois era condição da Ordem que os edifícios fossem erguidos junto de cursos de água. Embora se conserve ainda o recinto envolvido pela cerca, desapareceram já os claustros e alguns dos edifícios monásticos.As inúmeras doações recebidas (a primeira, pelo primeiro rei de Portugal, D. Afonso Henriques), e uma eficaz gestão das aquisições, tornou-o próspero nos séculos XII e XIII, possuindo um vasto património que se distribuía por todo o norte e centro do país.Durante o século XVIII o Mosteiro foi alvo de ampliações e renovação do mobiliário litúrgico e linguagem artística, como o prova a renovação da fachada, a execução dos azulejos da capela-mor (1718), o cadeiral do coro, que tem a particularidade de possuir nos espaldares representações pintadas de figuras ligadas à Ordem de Cister, ou o órgão, encomendado em 1766. Antes disso, ainda no século XVII, a capela-mor havia sido totalmente reformulada e ampliada para albergar um retábulo de talha dourada. Em 1996, a intervenção no Mosteiro de Tarouca, reconhecidamente um dos mais significativos monumentos da arquitectura cisterciense em Portugal, foi assumida como prioridade absoluta do IPPAR. As acções desenvolvidas desde então compreenderam diversas áreas de actuação, desde a conservação e restauro e a elaboração de estudos no âmbito da salvaguarda, até à aquisição de terrenos e drenagens.