Um avivar das raizes

Um avivar das raizes

domingo, 27 de novembro de 2011

Igreja de Santa Maria de Airães



Airães foi uma importante comenda das Ordens Militares de Malta e de Cristo. A Ordem Soberana e Militar de Malta, Ordem dos Hospitalários ou Ordem de São João de Jerusalém, é uma organização internacional católica, que começou por ser uma Ordem Beneditina, fundada no século XI, na Terra Santa, por ocasião das cruzadas. Principiou por assistir e proteger os peregrinos àquelas paragens. Depois das derrotas e da perda de influência dos cruzados na Palestina, a Ordem de Malta passa a operar a partir da ilha de Rodes e, posteriormente, de Malta, enquanto Estado vassalo do Reino da Sicília. Atualmente, é uma organização humanitária internacional.
O atual edifício não corresponde à data de fundação da Igreja, a qual está documentada desde 1091. Nas Inquirições de 1221 a Igreja surge como ecclesia de Araes, no Julgado de Felgueiras.
Há registos, efetuados por Francisco Craesbeeck, em 1726, da existência de uma inscrição junto ao púlpito, entretanto desaparecida, referente ao ano de 1184.
O padroado da Igreja conheceu sucessivas transferências, pertencendo à Coroa em 1394, vinculado à Ordem de Aviz. Em 1517 constituiu-se como comenda da Ordem de Cristo.
No entanto, o aspeto tardio de alguns dos elementos da sua construção aponta para um edifício do final do século XIII ou mesmo do início do século XIV.



As sucessivas alterações que a Igreja foi sofrendo modificaram-lhe o caráter inicial. As remodelações sofridas entre os séculos XIII e XIV introduziram-lhe elementos arquitetónicos e gramática decorativa inspirados no gótico.
Este monumento é um belo exemplar da arquitetura religiosa românica, gótica, seiscentista e rococó. Santa Maria de Airães é uma Igreja de estrutura românica, orientada, de planta longitudinal, de três naves, cabeceira quadrangular simples e torre sineira adossada à fachada lateral da capela-mor.
É nesta campanha que o interior da Igreja é alargado, passando para três naves. Posteriormente, o movimento barroco acrescenta à capela-mor o revestimento com painéis azulejares, o altar central e o sacrário de talha dourada.
A perceção plena da história do edifício e dos aspetos artísticos passa pela compreensão de dados relevantes, como o facto de ter sido uma importante comenda das Ordens Militares de Malta, na Época Moderna, transformando-se em igreja paroquial apenas em 1834, após a extinção das ordens religiosas em Portugal.




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segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Igreja de São Lourenço de Almancil





A mais antiga referência à igreja de São Lourenço de Almancil surge em 1672 no Livro da sua freguesia (São João da Venda). A traça do templo, de nave única com altares laterais e capela-mor coberta por cúpula esférica, deverá remontar ao final do século XVII ou princípios do seguinte, uma vez que os painéis de azulejo, que revestem integralmente o templo, apresentam a data de 1730.
Se o exterior da igreja é relativamente sóbrio - alçado principal rematado por frontão triangular e pórtico de linhas rectas, ao qual se sobrepõe um janelão de frontão interrompido -, o interior vive do brilho cerâmico dos azulejos azuis e brancos, de tal forma que Santos Simões a definiu como "igreja de louça" (SIMÕES, 1949, p. 2). De facto, o revestimento é interrompido, somente, pela cantaria que define o arco triunfal, e pelo brilho dourado da cimalha que percorre o templo e do retábulo-mor, em talha dourada de Estilo Nacional.
A importância da obra fez com que o seu autor assinasse e datasse os painéis. Assim, sabemos que foram executados em 1730 por Policarpo de Oliveira Bernardes (um dos expoentes máximos do intitulado "ciclo dos Grandes Mestres"), e encomendados pelo Vigário Geral, Reverendo Doutor Manuel de Sousa Teixeira. Contudo, a autoria dos painéis das paredes da nave tem vindo a ser contestada e atribuída a um outro autor, ainda não identificado, mas próximo de Bernardes (MECO, 1989, p. 84).
Os oito painéis da nave representam cenas da vida de São Lourenço, sendo que os pilares exibem um conjunto de alegorias às Virtudes - Liberdade, Pobreza, Castidade, Obediência, Piedade, Paciência, Temor a Deus, Entendimento, Humildade, Preserverança, Justiça e Verdade, as duas últimas de dimensões superiores.
Na capela-mor encontram-se novamente cenas alusivas à vida de São Lourenço, orago da igreja. Este, foi martirizado em Roma no ano de 258, por ter ousado desafiar o imperador Décio ao não devolver o tesouro da igreja de que era diácono. Na realidade, São Lourenço distribuíra o ouro pelos pobres e nada sobrara para o Imperador, que furioso o mandou flagelar com varas, queimar as costas com um ferro quente e, por fim, estender-se sobre um manto de brasas (RÉAU, 1997, vol. 4, p.255). Na cúpula, que assenta sobre trompas onde figuram anjos com símbolos do martírio, São Lourenço é conduzido ao céu.






Estamos, pois, em presença de um programa iconográfico que articula a temática da nave com a da capela-mor, ao realçar, não apenas a vida e caridade do santo, mas também as virtudes através das quais se alcança a santidade e, por conseguinte, a vida para além da morte. Nas cúpulas, e para além da experiência adquirida noutras obras suas e de seu pai (António de Oliveira Bernardes), este pintor de azulejos tira partido dos efeitos cenográficos, que denotam o eventual recurso a tratados de cenografia e perspectiva, mais eruditos (ARRUDA, 1989, p. 25).
Se durante algum tempo a historiografia portuguesa considerou este mestre, apenas como um discípulo do seu pai, a igreja de Almancil é bem um exemplo da importância e relevância da sua actividade, de características próprias e bem definidas (MECO, 1986, p. 225). Com esta obra, Policarpo assumiu uma vertente mais elaboradas, patente nos painéis posteriores a 1730 e que privilegiou os revestimentos integrais dos espaços. A igreja da Misericórdia de Viana do Castelo, a capela de Nossa Senhora da Conceição de Loulé, a igreja de São Francisco de Faro, o Forte de São Filipe em Setúbal ou o Santuário dos Remédios em Peniche (SIMÕES, 1949, p. 2; MECO, 1986, p. 84) constituem exemplos de obras suas (mais recuadas ou da mesma época) com as quais a igreja de Almancil pode ser cotejada.
(Rosário Carvalho)



http://www.igespar.pt/pt/patrimonio/pesquisa/geral/patrimonioimovel/detail/72985/

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Mosteiro de São João de Longos Vales




A sueste de Monção, na rota do Românico da ribeira Minho, ergue-se a igreja do antigo mosteiro de São João dos Longos Vales, situada num vale fértil e verdejante, possui uma igreja românica do século XII cuja nave, fachada e laterais foram alteradas no século XVII.
A fundação do mosteiro remonta ao tempo de D. Afonso Henriques pelos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho. Da igreja rodeada de castanheiros e espigueiros, salienta-se a capela-mor da igreja original Românica que exibe estranhas figuras esculpidas, como serpentes e símios, nos capiteis exteriores e na ábside do interior. a fachada e as laterais exteriores da nave são do sec. XVII o exterior e interior da abside do sec. XII.





Tipologia

Arquitectura religiosa, românica, maneirista e neoclássica. Igreja de planta longitudinal composta por nave única, seiscentista, e capela-mor de três tramos, o último semicircular, românica, da 1ª fase do foco do Alto Minho, interiormente cobertas com tecto de madeira e abóbada de berço e quarto de esfera, respectivamente, com torre sineira e sacristia adossada à fachada lateral esquerda. (…) Cabeceira com contrafortes e zona semicircular ritmada por colunas com capitéis de decoração fitomórfica, zoomórfica e antropomórfica, terminada em cornija biselada sobre modilhões igualmente esculpidos.


Características Particulares

Igreja conventual conservando a capela-mor românica, de três tramos interiores marcados por arcos torais e exteriormente apenas com dois, de volumes escalonados, marcados por contraforte no primeiro e o outro por colunas. Segundo Carlos A. F. Almeida, a potência da sua arquitectura, a veemência, volumosa e a exuberância da sua escultura nos cachorros, capitéis, quer exteriores, quer interiores, e bases das colunas, fazem da cabeceira da igreja um dos cumes do românico nacional, constituindo-se um espaço onde há um grande delírio de formas, a que o granito empresta vida especial. As quatro colunas externas da capela-mor apresentam uma iconografia de particular relevância pelo valor iconográfico dos seus capitéis. Segundo o mesmo autor, o capitel historiado com harpa e centauro pronto a disparar o arco retesado é único no nosso românico. Na capela-mor, destaca-se ainda o baixo-relevo representando São Pedro na coluna interior do lado da Epístola, a qual poderá constituir um reaproveitamento e provir do primitivo portal principal. A solução adoptada na organização do templo e na sua altura é a mesma que encontramos em Sanfins de Friestas, com a qual mantém muitas semelhanças também a nível decorativo, tendo, igualmente, grande similitude com a Igreja de Tominho, na Galiza, na esteira da sua matriz galega.
SIPA, 2009

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Citânia de Terroso



Situada numa zona de transição entre o campo e a cidade e como sempre num local elevado de forma a facilitar a vigilancia, como na maioria dos castros, predomina a casa de forma redonda, as casas quadradas podem resultar da presença de outros povos k posteriormente se juntaram aos povos castrejos e as muralhas que impediam o facil acesso as populações por parte de inimigos.


Descrição
O povoado fortificado mostra uma organização defensiva constituída por três linhas de muralhas. A plataforma central da Cividade era circundada por um forte sistema defensivo constituído por dois muros paralelos construídos com grandes blocos e pedras de tamanho médio sem argamassa, com as faces exteriores de aparelho regularizado e o intervalo entre ambos preenchido com saibro. As outras duas linhas defensivas são reconhecíveis por desníveis e afloramentos de muros. Na plataforma central, o ordenamento urbano mostra um arruamento lajeado axial, no sentido E - O pelo centro do povoado, parecendo cruzar-se com outro no sentido N - S, formando quatro grandes unidades. Cada um destes quadrantes está dividido em núcleos familiares constituídos por várias construções em torno de um pátio quase sempre lajeado.


Cronologia
500 a. C. / séc. 1 d. C., meados - Construção e ocupação da cividade; 1906 - o povoado foi escavado pela primeira vez por Rocha Peixoto; 1907 - os proprietários do terreno não deixaram que as escavações continuassem e obrigaram a que a terra fosse recolocada sobre as ruínas; 1980 - segunda campanha de escavações, sob a responsabilidade de Armando Coelho Ferreira da Silva da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP); 2003 - conclusão de obras de dinamização do espaço, com o apoio do Programa Operacional da Cultura.


Intervenção Realizada
1906 - Escavações arqueológicas; 1980 / 1982 - escavações arqueológicas; 2003 - Obras de requalificação do local, limpeza da vegetação infestante, construção do edifício de apoio, criação de acessos e colocação de sinalética; 2006 - trabalhos de limpeza e manutenção


Características Particulares
Na intervenção de 1906 / 1907 foram identificadas estruturas sepulcrais as quais constituem um documento muito raro no contexto dos povoados fortificados da Idade do Ferro do Norte de Portugal.



Bibliografia
SARMENTO, M., Disperos, Coimbra, 1933, p. 166; ALMEIDA, C. A. F., Póvoa de Varzim e o seu aro na Antiguidade, Boletim Cultural da Póvoa do Varzim, 11 (1), 1972, p. 5 - 34; SILVA, A. C. F., Campanha de trabalhos arqueológicos na Cividade de Terroso (Póvoa de Varzim), 1980, Boletim Cultural da Póvoa do Varzim, 20 (2), 1981, p. 305 - 315; idem, A cultura Castreja no Noroeste Português, Paços de Ferreira, 1986, p. 30 e 39 - 40, Est. XVII - XX e XL; Património Arquitectónico e Arqueológico Classificado, Inventário, Lisboa, vol. II, Distrito do Porto, p. 80; CARVALHO, Elisabete, Póvoa de Varzim investiga ocupação desde o bronze ao medieval in Diário do Minho, 10 Agosto 2006.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Convento de São Gonçalo de Amarante

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Convento de São Gonçalo de Amarante Integrado no complexo monástico dominicano dos séculos XVI/XVII, integra a Igreja de São Gonçalo, implantada no centro histórico de Amarante, junto à ponte sobre o Rio Tâmega, de arquitectura Renascentista/Maneirista, mandado erguer no reinado de D. João III (1540). A Igreja é em cruz latina, de transepto inscrito, com cruzeiro coberto por abóbada, e naves com capelas colaterais precedidas por galilé, tendo um claustro quadrado de dois pisos na ala norte.



O pórtico apresenta uma decoração rica, tipo retábulo, e é aberto na fachada lateral virada a sul. Quanto ao retábulo-mor, tem características barrocas, de estilo joanino. A torre, de três andares, é rematada por arcos balaustrados e por pirâmides de recorte oriental. A Varanda dos Reis, aberta ao nível do último andar do pórtico, é de cinco arcos de volta perfeita, assentes em pilastras toscanas, junto das quais se inserem as estátuas dos quatro monarcas que patrocinaram a construção do edifício (D. João III, D. Sebastião, D. Henrique e Filipe I).
Na cornija, por cima da galeria, sobressaem seis pirâmides, assentes em pedestais, e no paramento à esquerda do pórtico abre-se o janelão setecentista que ilumina o transepto. No interior, as seis capelas têm arcos de volta perfeita, assentes em pilastras de grosseiros capitéis jónicos. O tecto da nave é de abóbada rebocada, e de caixotões nas capelas. Destas, merece particular destaque a de Santa Rita Cássia, com retábulo de talha dourada.



No transepto, destacam-se os altares de Santa Luzia, do Coração de Maria e do Santíssimo. Um assinalável arco triunfal ergue-se junto às estátuas de São Pedro e São Paulo, com ligação à capela-mor. O claustro, formado por dois pisos, é constituído por alas com cinco arcos plenos. A edificação do mosteiro dominicano foi lançada em 1543, tendo a obra ficado a cargo de frei Julião Romero. Quando Portugal perdeu a independência (1580), as obras, então sob a tutela de frei António dos Santos, decorriam em bom ritmo.
No ano seguinte, teve início a construção da nova igreja. Em 1585, os dominicanos solicitaram a Filipe I de Portugal que lhes desse autorização para fazerem uma colecta em prol das obras. Cinco anos mais tarde, o monarca escreve ao arcebispo de Braga a inteirar-se do andamento da construção e da verba gasta. No início do século XVII, João Lopes Amorim celebra contrato (1606) para construir uma escada no claustro e um chafariz. Conclui-se depois a edificação do segundo claustro.
Em 1641, Domingos de Freitas é contratado para a construção das abóbadas do transepto. No final do século XVII, conclui-se a torre sineira. Já em 1733, têm início obras na capela-mor, a cargo de mestre António Gomes, para que se incluísse uma nova tribuna no altar.



No século XIX, parte do conjunto monumental passa a servir de cenário às sessões camarárias (1838). Outras parcelas do mosteiro são utilizadas como mercado, prisão, quartel, escola e liceu. Em 1852, o edifício é cedido à Câmara Municipal de Amarante, que ali se instala definitivamente em 1867.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Museu Municipal de Arqueologia de Silves




Inaugurado em 1990, o Museu Municipal de Arqueologia de Silves foi construído em torno do admirável Poço-Cisterna Almóada dos séculos XII-XIII – descoberto após escavações arqueológicas decorridas nos anos 80 do séc. XX e hoje classificado como Monumento Nacional – que se tornou a peça central da colecção e do discurso expositivo. Cenograficamente integra, também, a muralha da cidade do mesmo período, funcionando, assim, não só como um museu onde as colecções expostas são muito significativas, mas também como uma jóia do património islâmico em Portugal.
O acervo do Museu, na sua maioria proveniente das escavações decorridas na cidade e no concelho, reúne um conjunto de objectos do Paleolítico, os mais antigos, passando pelo Neolítico, pelo Calcolítico, pela Idade do Bronze, pela Idade do Ferro, pelo Período Romano e destacam-se, não só pela quantidade, mas também pela qualidade e excepção, as peças do Período Medieval, com destaque para o Período Muçulmano – Omíada, Califal, Taifa, Almorávida e Almóada, desde o século VIII ao século XIII, na sua maior parte do período Almóada, dos séculos XII-XIII –, que são prova da riqueza e da importância da cidade naquele período histórico.
A colecção reúne, ainda, um importante conjunto de objectos do período moderno – séculos XV, XVI e XVII –, que demonstra a influência das rotas comerciais e a importância das trocas e contactos da cidade com outras regiões do globo.
Dividida em oito núcleos temáticos, a colecção poderá ser visitada cronologicamente desde o Paleolítico até ao século XVII.
É parceiro desde 2005 da organização Museum With no Frontiers, na secção Discover Islamic Art. www.discoverislamicart.org
É membro, deste Março de 2008, da Rede de Museus do Algarve, juntamente com outros Museus da região, projecto que visa a cooperação e parceria entre instituições museológicas.


http://www.cm-silves.pt

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segunda-feira, 4 de julho de 2011

Igreja de São Mamede de Vila Verde



História

Os documentos mais antigos referem a existência da Igreja de São Mamede já em 1220, na altura integrando o padroado do Mosteiro de Santa Maria de Pombeiro.
No entanto, o atual edifício corresponde a uma reforma mais tardia, já em plena época de influência gótica, apesar de recorrer ainda à construção românica.
As Inquirições de 1258 indicam que D. Mendo de Sousa instala-se no lugar de Vila Verde em 1258. A capela terá, muito provavelmente, sido erigida no século XIII.
Martim Anes e a irmã Maria Anes efetuam a doação da Quintã de Vila Verde ao Mosteiro de Pombeiro, em 20 de fevereiro de 1301.



Alguns apontamentos de frescos que ainda hoje são passíveis de serem admirados na capela-mor foram pintados, pelo Mestre Arnaus, no século XVI. Na nave é ainda visível o revestimento a reboco decorado com pinturas. O santo padroeiro era S. Mamede.



Durante muito tempo em estado de ruína, sem possuir cobertura, a Igreja sofreu as vicissitudes do abandono e das condições climatéricas. Este desleixo terá principiado após 1866, altura em que é construída uma nova igreja paroquial em Vila Verde. Em 1959 já não possuía telhado.


Recuperação e Valorização



A Igreja foi objeto de obras de conservação e valorização, no âmbito das quais se procedeu ao restauro de pinturas murais. Estas apresentavam um preocupante estado de conservação em resultado de um prolongado estado de ruína a que o edifício esteve sujeito.
Entre os rebocos e o suporte encontraram-se raízes, que foram removidas. Seguiu-se uma limpeza húmida, apenas possível devido à excecional qualidade do reboco original.
As lacunas foram preenchidas em profundidade antes da aplicação do reboco final, para o qual foi escolhida uma argamassa de duas partes de areia branca, uma parte de areia amarela e uma parte e meia de cal, com adição de pequena medida de pó de pedra negra.
Os responsáveis pelo restauro optaram por não efetuar uma reintegração cromática, devido à grande fragmentação da pintura. Em paralelo, procedeu-se à lavagem dos paramentos da nave, que apresentavam restos de reboco caiado.
A pintura da parede fundeira corresponde, segundo os técnicos, a uma campanha de inícios do século XVI, podendo ser dividida em duas partes distintas.
A superior é preenchida por composição decorativa de elementos vegetalistas que envolvem um escudo de armas central. A inferior divide-se em três áreas verticais com a representação, em cada uma delas, de três figuras de santos. À esquerda, provavelmente, São Bento, e à direita, provavelmente, São Bernardo, encontram-se dois monges com mitra e báculo. Ao centro estará S. Mamede, pese embora o grande número de elementos em falta. Estas imagens estão rematadas por uma moldura em forma de barra de enrolamento.
Por cima da composição encontram-se vestígios de uma segunda campanha pictórica, que cobriria toda a parede fundeira, prolongando-se até metade das paredes laterais. Nestas últimas é possível observar uma representação de armas pontuada por motivos decorativos estampilhados.
Na nave, os fragmentos encontrados nas paredes laterais devem fazer parte da primeira campanha da capela-mor. O reboco da zona superior e da zona inferior possuem, em ambos os lados, um hiato central, registando-se a presença de uma pintura decorativa de padrão repetitivo de quadrifólios a vermelho e negro.


Arqueologia

A Igreja sofreu uma intervenção arqueológica entre 21 de junho e 6 de julho de 2005, com o objetivo de procurar compreender a solução construtiva na ligação do arco triunfal à capela-mor, para informar adequadamente o projeto de arquitetura no que respeita à articulação dos diferentes pisos e avaliar a existência de condicionantes arqueológicas à execução das obras previstas para a utilização do templo.
Segundo moradores locais, terão sido efetuados translados dos enterramentos existentes na Igreja para o novo cemitério da freguesia, durante a década de 40 do século XX, pelo que os responsáveis pelos trabalhos arqueológicos não esperavam encontrar vestígios primários de enterramentos.
As escavações principiaram pelo interior da capela-mor, o arco triunfal e o ombro setentrional da nave. Procedeu-se ao levantamento fotográfico e gráfico do pavimento e numeração de todos os elementos para eventual futura remontagem, na zona pavimentada da capela-mor.
O espólio recolhido foi objeto de tratamento preliminar de limpeza, marcação, inventário e classificação, depositado provisoriamente nas instalações da Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho, sendo composto por 175 fragmentos de diversos tipos de materiais, desde vidros contemporâneos, cerâmicas modernas e contemporâneas, associados ao contexto secundário dos aterros registados após a transladação.
Encontraram-se, ainda, uma moeda, duas contas de rosário em cerâmica e um pequeno crucifixo em madeira revestida de chapa de cobre, todos elementos datados do período Oitocentista.
Na fase inicial da escavação foi possível identificar que a vala de fundação do arco triunfal moderno corta os pés de uma das cavidades sepulcrais modernas, além do embasamento do pilar sul do arco medieval original. Este prolongava-se mais para sul, determinando um vão menor.
As escavações esclareceram que a solução de articulação entre a nave e a capela-mor, confirmando a existência de um desnível original entre um espaço e outro e que o alargamento e elevação do arco triunfal, não se traduziu em qualquer alteração do nível das cotas dos pisos, conforme refere o relatório dos trabalhos arqueológicos.
Confirmou-se, igualmente, o profundo e quase total revolvimento do subsolo da igreja, na sequência da transladação dos restos dos enterramentos para o novo cemitério, em meados do século XX.
O altar foi desmontado e a capela-mor recebeu uma repavimentação, recorrendo a elementos originais, incluindo partes do maciço correspondentes à mesa do altar.

Lendas e Curiosidades


São Mamede tem fama de protetor do gado, daí a localização desta Igreja, numa área dedicada à pastorícia. O santo terá sido pastor e mártir da Cesareia, na Capadócia. No deserto terá construído um espaço de oração onde pregava o Evangelho aos animais selvagens. Um anjo ordenou-lhe que utilizasse o leite dos animais para fazer queijo e oferecer aos pobres.



O Imperador Aureliano perseguiu São Mamede, acabando por o condenar a ser devorado por um leopardo, um leão e um urso. Estes, contudo, recusaram atacar São Mamede e, pelo contrário, ajoelharam-se aos seus pés. Após ter sofrido martírios incontáveis, as relíquias de São Mamede foram transportadas para Itália, Alemanha e França.






Bibliografia


AFONSO, Luís Urbano de Oliveira – A Pintura mural portuguesa entre o Gótico Internacional e o fim do Renascimento: formas, significados, funções. Lisboa: [s.n.], 2006. Tese de Doutoramento em História da Arte, apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. 3 Vols.

AFONSO, Luís Urbano de Oliveira – “Arnaus: um fresquista do Renascimento”. In SERRÃO, Veríssimo (coord.) – O largo tempo do Renascimento: arte, propaganda e poder. Casal de Cambra: Caleidoscópio, 2005. p. 212-221.

ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de – Patrimonium: inventário da Terra de Sousa: concelhos de Felgueiras, Lousada e Paços de Ferreira. [CD-ROM]. Porto: Etnos, 1995.

BESSA, Paula – “Pintura mural em Santa Marinha de Vila Marim, S. Martinho de Penacova, Santa Maria de Pombeiro e na Capela Funerária anexa à Igreja de S. Dinis de Vila Real: parentescos pictóricos e institucionais e as encomendas do Abade D. António de Melo”. Separata de Cadernos do Noroeste. Braga: Universidade do Minho. Série História 3, vol. XX, nº1-2 (2003) p.67-96.

BOTELHO, Maria Leonor – São Mamede de Vila Verde: um testemunho tardio do românico do Vale do Sousa. Felgueiras: Município de Felgueiras, 2011.

CRAESBEECK, Francisco Xavier da Serra – Memórias ressuscitadas da Província de Entre Douro e Minho no ano de 1726. Ponte de Lima: Edições Carvalhos de Basto, 1992. Vol. II.

FERNANDES, M. Antonino – Felgueiras de ontem e de hoje. Felgueiras: Câmara Municipal de Felgueiras, 1989.

FONTES, Luís; CATALÃO, Sofia – “Intervenções arqueológicas no âmbito da Rota do Românico do Vale do Sousa”. In Actas do I Encontro de Arqueologia das Terras de Sousa. Oppidum - Revista de Arqueologia, História e Património. Lousada: Câmara Municipal de Lousada. Número Especial (2008) p. 257-281.

MALHEIRO, Miguel [et al.] – “Torre de Vilar”. In Estudo de Valorização e Salvaguarda das Envolventes aos Monumentos da Rota do Românico do Vale do Sousa: 2ª Fase. Porto: [s.n.], 2005. Vol. II.

ROSAS, Lúcia (coord.) – Românico do Vale do Sousa. Lousada: Comunidade Urbana do Vale do Sousa, 2008.

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terça-feira, 21 de junho de 2011

Igreja de Nossa Senhora da Anunciação, Matriz de Mértola




A antiga mesquita de Mértola foi construída na segunda metade do século XII, numa zona onde se pensa ter existido um conjunto palatino desde a Antiguidade Tardia. Na sua edificação, foram vários os elementos reaproveitados de edifícios anteriores, como parte de uma arquitrave e diversos fragmentos de inscrições romanas, do século II. Para além disso, a actual igreja ainda conserva dois capitéis coríntios datáveis do século IX, nas imediações foram identificadas peças datáveis da época visigótica, o que reforça o estatuto deste local como um dos mais importantes no perímetro citadino ao longo dos tempos.
A mesquita era ligeiramente maior que a actual igreja, na medida em que possuía seis tramos (e não os 4 de hoje), suportados por vinte colunas (actualmente existem 12). Planimetricamente, tinha uma estrutura em "T", sendo mais amplas as naves central e a que se implantava junto da qibla, disposição espacial que foi já entendida como o resultado de uma inspiração directa em modelos marroquinos contemporâneos, com particular destaque para a mesquita de Tinmal (1153-54). O tecto era de madeira policromada e foi totalmente suprimido no século XVI, sobre ele descarregava uma curiosa cobertura, composta por cinco telhados de duas águas que cobriam cada uma das naves, e que foi ainda desenhada por Duarte d'Armas em 1509.
Desconhece-se a forma e localização do pátio anexo, mas é de presumir que se situasse a Nordeste, em cuja parede se abrem três portas de arco em ferradura inscrito em alfiz,descentradas em relação ao ritmo homogéneo dos tramos. No muro da qibla, a nascente do mirhab, situava-se uma quarta porta, de feição idêntica às anteriores. Ainda no exterior localizava-se o alminar, também desenhado por Duarte d'Armas, poderosa torre no prolongamento da nave central, elevada a c. de 15 metros de altura e que era decorada com duas séries de arcarias cegas. De volta ao interior, sobressai o mirhab, por possuir ainda uma decoração em gesso. Ele só foi descoberto no restauro dos anos 40 do século XX, facto que ajudou a conservar o revestimento, composto por "três arcos cegos polilobados rematados por uma cornija.
No plano estrutural, o telhado passou a ser duas águas e o portal, já renascentista e executado apenas nos meados do século, foi encomendado a André Pilarte, importante arquitecto sediado em Tavira e com ampla obra no Sotavento algarvio. No interior, contudo, foi ainda o vocabulário manuelino que triunfou, em capitéis e bocetes vegetalistas de grande qualidade, onde descarregam as abóbadas de cruzaria de ogivas dos tramos. Múltiplas obras menores sucederam-se nos séculos seguintes, mas não foram suficientes para alterar a exótica fisionomia almóada-manuelina do monumento.
O conhecimento destas transformações devemo-lo às Visitações ordenadas pela Ordem de Santiago, nos finais do século XV e primeira metade da centúria seguinte. Por elas ficamos a saber da relação de trabalhos efectuados, desde retábulos e pinturas murais à edificação da sacristia ou à redefinição do próprio espaço. Coube, todavia, ao comendador D. João de Mascarenhas (de quem ficou a memória numa mísula que contem um busto humano e uma cartela com a inscrição IOANE) a iniciativa de actualização do templo, ao que tudo indica a sua propya custa. Da empreitada então executada, conta-se a redução de seis tramos para quatro, a construção de um novo portal principal e a redefinição da cobertura, que obrigou também à substituição de capitéis do interior .

quibla- No Islão é definido como a direção da Kaaba em Meca para onde devem ser dirigidas as orações

Mihrab- É um termo que designa um nicho em forma de abside numa mesquita. Tem como função indicar a direcção da cidade de Meca (qibla), para qual os muçulmanos se orientam quando realizam as cinco orações diárias

Mísula- é um ornato que ressai de uma superfície, geralmente vertical, e que serve para sustentar um arco de abóbada


Fonte- Igespar
Fotos- http://pedrascomemoria.blogspot.com/

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Ribat da Arrifana


Este Ribat é citado em diversos textos islâmicos e por historiadores mais recentes, fundado pelo mestre sufi Abû-l-Qâsim Ahmad Ibn al-Husayn Ibn Qasî, na Ponta da Atalaia em Aljezur próximo do Vale da Telha, só foi identificado em 2001, pelos arqueólogos Rosa e Mário Varela Gomes.
A análise da informação histórica e arqueológica permite considerar que o Ribat terá sido erguido por volta de 1130 e abandonado a partir de 1151, depois do assassinato do líder espiritual seu fundador (Ibn Qasî) e da perseguição movida aos seus seguidores.
Natural de Silves, Ibn Qasi era provavelmente um muladi, ou descendente de cristãos convertidos, de origem romana, dado que se pensa que o seu nome de família viria do romano Cassius. Funcionário da alfândega de Silves opta por uma vida de meditação e recolhimento, entregando metade dos os seus bens aos pobres e refugiando-se numa Zauia ou Azóia onde inicia um caminho na busca de Deus, fundando uma confraria designada por Movimento Muridíno.
Essa Zauia daria origem ao famoso Ribat da Arrifana, em Aljezur, que constrói com a restante metade dos seus bens, e que se torna sede da sua Cavalaria Espiritual, e incluía uma mesquita, celas para os seus discípulos e cavalariças.
Nas escavações efectuadas foram identificados testemunhos arquitectónicos de três mesquitas, com qiblas e respectivos mihrabs, devidamente orientados para Meca, sendo uma delas de grandes dimensões e de construção mais “recente”.

A orientação do Ribat

Na extremidade poente da Ponta da Atalaia, localizava-se uma pequena mesquita, um minarete e “muro de orações”. A presença do minarete confere-lhe uma importância que a localização, quase debruçada sobre o Oceano, já indicava.
Na zona central foram identificadas um conjunto de celas, orientadas para nordeste, desde a arriba norte à arriba sul da península da Ponta da Atalaia, que poderão ser alinhamentos de pequenas mesquitas e, mais a poente duas vivendas que poderiam ter pátios.
Na zona mais interior foi descoberto um grande pátio delimitado por muros e dois compartimentos anexos que podem corresponder a uma madraza (escola corânica).






Estátua de Ibn Qasi em Mértola



Fontes consultadas: Vários textos de pesquisa na Internet acerca dos trabalhos realizados pelos arqueólogos Varela Gomes no Ribat

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Mértola Festival Islâmico 2011



Entre os dias 19 e 22 deste mês de Maio decorreu em Mértola a 6ª edição do Festival Islâmico.Este festival realiza-se de 2 em 2 anos para que, segundo a organização, seja assim mais desejado. Verdadeiro encontro de culturas. O ponto alto deste evento é o souk (mercado árabe)que fica situado na parte velha da vila com acesso directo á mesquita e ao castelo.
Toda a zona do souk fica envolvida em aromas de incenso, sândalo, chá de menta e especiarias.No ar sente-se a mistura de vozes e melodias que dão cor ao quotidiano da pacata vila de Mértola. Os concertos realizaram-se de noite junto ao cais de Mértola e nos largos da vila e são sempre compostos de ritmos exóticos com forte componente Islâmica.
Gostei....


Musica de Eduardo Ramos, canta e toca alaúde árabe entre outros instrumentos árabes.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Mosteiro de São Miguel de Refojos de Basto







Os cronistas regulares não acordam no nome do fundador deste notável Mosteiro, para uns Hermínio Fafes, para outros Gomes Soeiro. Porém estas afirmações não merecem crédito, embora na então sala do Capítulo do Mosteiro se tivesse colocado um pretenso retrato do segundo, como fundador, nem deverá conceder-se maior importância ao informe de Frei Leão de S. Tomás, de que no Mosteiro haviam aparecido sepulturas datadas de 670 e 701. Certo é que o Mosteiro existia já em princípios do Séc. XII, não se conhecendo com exactidão desde quando, e que os seus padroeiros eram os descendentes do rico-homem D. Gomes Mendes, “Guedeão”, que viveu em meados desse século, certamente porque foi dele o Mosteiro próprio de seus antepassados, dominantes na terra de Basto e, por aquela possessão, seus fundadores e senhores do luar de “Refúgios”.
O mais antigo desses nobres possessores é um “domno” Mendo, que viveu na segunda metade do século XI e de cuja ascendência nada se pode determinar de provável. Sucedeu-lhe nestas propriedades – “Villa” e respectivo “acistério” de S. Miguel – o filho, que os linhagistas medievais registaram com o nome de D. Gueda “O Velho”, para o distinguirem de outros homónimos, seus descendentes. É, indubitavelmente, um grande rico-homem da “escola” do Conde D. Henrique, D. Teresa e de D. Afonso Henriques.
No século XIII, a maior parte do padroado do Mosteiro passou de Gomes Mendes “Guedeão” a seu filho D. Egas Gomes Barroso. Dele passou à sua descendência, principalmente Gonçalo Viegas e Gomes Viegas “de Basto”. Estes e muitos outros padroeiros de Refojos eram proprietários nobres de locais à roda do convento nos séculos XII e XIII.
No século XIV, foi o Vasco Gonçalves “Barroso”, primeiro marido da que foi esposa do condestável D. Nuno Álvares Pereira, D. Leonor de Alvim; e esse seu filho de algo dotou o Mosteiro com muitos haveres. O rei D. Afonso Henriques havia coutado este Mosteiro ao seu abade Bento Mendes, por 800 maravedis; e pela inquirição se vê que nele se compreenderam, além do Mosteiro, as paróquias de S. Pedro de Alvite e Sta. Maria de Outeiro, respectivamente com dezassete e trinta casas. A igreja do Mosteiro era obrigada a dar apenas por ano quarenta maravedis velhos à Coroa.
D. Dinis, em 20/12/1223, deu carta “a Martim Gil priol do mosteyro de Reffojos de Basto e procurador do Abade e Convento do dito mosteyro” a respeito do escambo que Pero Foncinha e o comendador do “Barro” – Rio Gonçalves “tinham feito pelo rei e em seu nome pelas herdades em Adaúfe e em Crespos” por outros que os monges tinham em Vilalva dadas “pera sua pobra de Vila Real”.
O Mosteiro de Refojos de Basto era governado por abades perpétuos, mas no reinado de D. Duarte passou a sê-lo por abades comendatários. Foi o primeiro D. Gonçalo Borges, em cuja família o cargo de manteve por 109 anos. Depois da morte de Francisco Borges, último daquela família, sucedeu-lhe D. Duarte, filho bastardo de D. João III, que veio a ascender ao arcebispado de Braga.
Foi seu sucessor o ilustre Frei Diogo de Murça, jerónimo, que governou a casa com o título de administrador perpétuo. Pediu este ao Papa Paulo III que extinguisse o Mosteiro e permitisse que as suas rendas fossem aplicadas a dois colégios que se deveriam fundar em Coimbra, um de S. Bento e outro de S. Jerónimo. O sobrante seria para construir um outro colégio para 12 pobres. O pontífice anuiu ao pedido e expediram-se as bulas nesse sentido, recebidas por Frei Diogo de Murça, em Coimbra, onde então reitorava a Universidade.
Os padres, porém apelaram destas bulas e Frei Diogo reconsiderou, rogando para Roma que se mantivesse o Mosteiro com 12 padres e um prior e fosse reformado com os demais. Paulo IV acedeu a este novo pedido em 1555. Frei Diogo de Murça morreu no Mosteiro em 1570 e nele foi sepultado.
D. João Pinto, Cónego regrante de Sta. Cruz de Coimbra foi o último abade comendatário e, por bula de S. Pio V, o governo do Mosteiro foi entregue a abades trienais.
Gozou o Mosteiro de Refojos de Basto de avultadas rendas, quase todas em Trás-os-Montes, que eram divididas a meio com a Casa de Bragança, por serem herança do já referido Vasco Gonçalves “Barroso”, que foi sepultado no Mosteiro. A Igreja do Convento foi reconstruída em 1690, ficando com duas torres soberbas e muito elegantes.
O Mosteiro foi vendido pelo Estado, depois da extinção das Ordens Religiosas, em 1834.



Fonte :
http://www.cabeceirasdebasto.pt/

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Castelo de Palmela - Igreja de Santa Maria




Monumento classificado de interesse nacional desde 1910, o Castelo de Palmela apresenta um elevado e reconhecido interesse histórico e patrimonial, sendo alvo de um projecto de Recuperação e Animação (PRAC) desde 1992, estabelecido a partir de um programa criado para este efeito.A igreja de Santa Maria do Castelo, foi construída dentro do Castelo de Palmela no final do século XII, inícios do século XIII. Este templo actualmente em ruínas deve a sua fundação à Ordem de Santiago. Neste vídeo podemos visitar o interior da igreja em ruínas com vestígios de azulejos do século XVII. Entre outros vestígios arqueológicos que se vêem no chão destacam-se as lápides funerárias.



Gabinete de Estudos sobre a Ordem de Santiago (GEsOS


Na sequência dos diversos trabalhos de recuperação realizados no Castelo, a intervenção na Sacristia da Igreja de Santa Maria considerava-se como a mais ambicionada de modo a deter o avanço do tempo sobre as suas frágeis ruínas.
A Igreja, considerada a sede da primeira paróquia da Vila de Palmela, foi erigida no século XII em pleno Período Românico, encontrando-se em ruínas desde 1755 em consequência do grande terramoto, restando do conjunto os portais de entrada e a Sacristia.
A intervenção prevista para o local consistiu na recuperação do módulo correspondente à Sacristia para instalação do Gabinete de Estudos sobre a Ordem de Santiago (GEsOS).


(...)

Recuperação de elementos existentes

A intervenção de recuperação efectuada no interior e exterior da Sacristia compreendeu diversos trabalhos de reparação de rebocos em paramentos de alvenaria de pedra irregular argamassada.
Os muros de pedra, juntamente com o pavimento de acesso no exterior da Sacristia e que indicam ao visitante a direcção da entrada,foram totalmente revistos de modo a repor a uniformidade e rigidez ao conjunto.
Em consequência da época de chuvas, o muro exterior à igreja encontrava-se em grande parte derrubado. A sua reconstrução foi efectuada através da utilização de técnicas tradicionais que passaram pela escolha criteriosa das pedras a utilizar, ensaios às argamassas de assentamento e de reboco, nomeadamente ao nível da respectiva constituição mineralógica e cromática.



Interior das ruínas da igreja de Santa Maria



Insígnia da Ordem de Santiago



Alçado Norte da Igreja com torreão ao fundo

Interior da Igreja antes das obras de restauro


Excerto de texto de Rosa Bastos
http://www.monumenta.pt
Fotos a cores : Pedrascomemoria.blogspot.com
Foto a P/B : Google

terça-feira, 26 de abril de 2011

Igreja de São Gião

A localização da Quinta de São Gião, lugar onde se encontra o Templo (Igreja) com o mesmo nome, normalmente passa despercebido ao trajecto das pessoas que visitam a zona da Nazaré, visto que são poucas as indicações existentes. Muito há a fazer pela Quinta de São Gião; é mais um lugar que trará muito turismo à Nazaré. Para tal é necessário restaurar o pequeno templo cristão-visigodo dedicado a São Gião e que ali existe desde 656-665 d.c. O monumento foi nitidamente ‘encaixotado’ treze séculos depois de ter sido construído. O templo foi classificado Monumento Nacional por Decreto do Governo 1/86, de 3 de Janeiro,e têm sido encontrados varios objectos nas escavações efectuadas no lugar: uma estátua de São Sebastião, uma Ara Romana anepígrafa (pedra de altar), um túmulo monolítico, um cipo funerário romano, uma lucerna Moçárabe, moedas desde o reinado de D. Sancho I (1201) entre outros objectos.




Alguns autores datam-na do século X, já que apresenta elementos arquitectónicos e decorativos já influenciados pelo estilo moçárabe. Outros autores, ainda, descrevem o templo como sendo o que resta de um pequeno cenóbio de monges cristãos do período visigótico que se teria mantido em funções durante o período de ocupação muçulmana como local de residência de monges cristãos moçárabes.
Referências antigas a respeito do templo são fornecidas por Frei Bernardo de Brito na sua publicação intitulada Monarchia Lusytana datada de 1597. O autor relata que o Reverendo Frey Francisco de Sancta Clara, Dom Abade Geral da Ordem (de Cister),encarregou-o de averiguar as antiguidades do local.Em relatos mais antigos outros frades, escreveram sobre o templo, dizendo que ficou despovoado devido a uma peste.
O que faz da Igreja de São Gião uma raridade arquitectónica na Península Ibérica é o facto de possuir um anteparo de três aberturas localizado entre a nave e o cruzeiro que servia para separar os acessos às práticas religiosas entre monges e leigos. No seu interior existem varios elementos decorativos: palmetas, rosetas quadrifoliadas, quadrifólios formados por losangos arqueados, Pentafólios inscritos em círculos, Cruzes com braços triangulares e iguais, fiadas de duplos losangos arqueados e inscritos em círculos e faixas rectangulares em espinha de peixe.




Em 1961 o Dr. Eduíno Borges Garcia suspeitou que São Gião era um templo Visigótico, mas não teve apoio para prosseguir a uma investigação detalhada. Posteriormente, e ao longo de alguns anos, o mesmo investigador reuniu provas suficientes para comprovar a suspeita, identificando o templo como monumento visigótico. No entanto a sua classificação como monumento-tipo representativo da liturgia da época visigótica tem sido posta em causa após estudos recentes e com os trabalhos de escavação e de Arqueologia da Arquitectura. Em resultado desses estudos, a igreja foi classificada como um dos poucos exemplares de templos asturianos conhecidos no nosso país, o que a dataria numa época posterior. Carlos Alberto Ferreira de Almeida, por exemplo, defendeu em 1986 esta tese, sustentando-a no facto de se ter recorrido, em termos de construção, a uma entrada de lintel recto sobrepujada por arco de descarga de volta perfeita, como na Igreja de São Pedro de Lourosa, e a existência de uma tribuna ocidental.


O seu orago, S. Gião era particularmente venerado na época visigótica, sendo da especial predilecção desta povoação. Referia ainda a existência de várias lápides com legendas confusas na região inculta em redor do templo, nomeadamente uma, de cuja veracidade se duvida actualmente e da qual se inferia que ali se tinha travado uma importante batalha em que as legiões romanas do cônsul Décio Juno Bruto foram vitoriosas. No cumprimento de um voto pela vitória alcançada, os romanos teriam levantado no local um templo ou altar dos deuses.

domingo, 17 de abril de 2011

Castelo de Linhares da Beira





Situado num monte, a altitude de 809 metros, nos contrafortes da Serra da Estrela, ergue-se o vetusto castelo medieval de Linhares. As suas torres, vistas de longe, tem a imponência de firmes atalaias, moldadas no granito da Serra, cujas montanhas lhe servem de pano de fundo. O local onde a fortaleza foi erguida era na proto-história um castro da 2ª idade do ferro (época de La Tène). Então, entre o séc. III a.C. e a romanização, ocuparam-no guerreiros pastores lusitanos e segundo alguns autores, chamar-se-ia Lenio. Mas talvez mais plausível será aceitarmos uma designação medieval, com paralelo na toponímia da vizinha Castela, onde aparece também Linares, como nome de povoação e antropónimo. Nos documentos medievais, dos quais o mais importante é o foral dado por D. Afonso Henriques a Linhares, em 1169, lê-se: ... «Ego Rex Alfonsus por(tugalensis) una pariter cum filiis meis qui exierant et nobis vobis hominibus (homines) de Linares qui ibidem populatoris estis per mandatum meum ...» No princípio chamava-se Linares. Depois, a partir do séc. XIV, passou a ser designada por Linhares. Da romanização, da ocupação germânica e da presença muçulmana naquele lugar, carecemos de escudos arqueológicos, embora haja comprovações toponímicas, algumas referências históricas e relatos tradicionais, que testemunham a passagem destes povos. As armas vitoriosas de Afonso III de Leão, conquistaram Linhares no ano 900, numa das grandes incursões daquele rei, para cá do rio Douro. Os muçulmanos, tempos depois da presúria de Afonso III de Leão, reconquistaram o local e a área e só em tempos de D. Afonso Henriques os cristãos garantiram a posse efectiva do lugar e a ocupação de outros pontos estratégicos da fronteira Norte-Sul, tais como Trancoso e Celorico da Beira, lugares onde o Rei Conquistador ordenou fossem construídas fortalezas e fez povoamento. De facto, observando nestes castelos os aparelhos mais antigos, verifica-se que correspondem ao tipo moçarabe (séc. XII), de que é exemplo o Castelo de Guimarães e era o modelo seguido na fortificação de um lugar. As Inquirições de 1258 dizem que os homens de Satao eram obrigados à anúduva dos castelos da Guarda e de Linhares, isto é, a trabalharem na reparação ou ampliação destes castelos. E isto porque estes castelos faziam parte do sistema defensivo daquela região. A meia lua que entra no brazão de armas de Linhares pode estar ligada a esta vitória sobre os Cavaleiros do Crescente, isto é,os Muçulmanos. De igual modo, as estrelas deste brazão, memorizam a derrota do exército leones alcançada em 1189 por cavaleiros de Linhares e de Celorico da Beira. Estes castelos tinham por alcaides dois irmãos, Rodrigo Mendes e Gonçalo Mendes. A importância estratégica deste castelo, na da defesa de Portugal, situado numa linha de penetração, que vinha de Castela chegava a Coimbra e a Lisboa, levou o rei D. Dinis, a ampliar e fortificar as muralhas de Linhares. Destas obras ressalta a Torre de Menagem. É nitidamente uma obra dionisiana, identificada pelos balcões de mata-cães, ou ladroneiras, preparados para oferecer surprezas em caso de assédio, delas jorrando setas, pelouros, agua e azeite ferventes. Um destes balcões ergue-se alguns metros acima da porta aberta a meia altura, numa das faces da torre de menagem, a principal do castelo. Ao cunhal nordeste e a face sudoeste ligam-se lanços de muralha, que correm de norte para sul, assentes na rocha e se deslocam para oeste, formando uma linha poligonal que fecha um amplo terreiro, onde se abrigava a população da vila. O Caminho da ronda, ou adarve, circunda o perímetro da muralha, de suficiente largura para não impedir o trabalho da defesa. Duas outras muralhas estenderam-se para nascente, fechadas por uma segunda Torre. Deste modo um segundo Terreiro ficava também protegido no interior. Duas robustas portas e um postigo mantém o estilo da construção inicial. O castelo de Linhares foi há anos restaurado pelos Monumentos Nacionais. O papel de Linhares na defesa de Portugal, durante a primeira dinastia, esta ligado à História Nacional. Todas as incursões militares vindas de Leão e Castela a atingiram. Na Batalha de Trancoso e na Batalha de Aljubarrota estiveram homens de Celorico e de Linhares. A importância do castelo de Linhares decaiu com a queda da cavalaria castelhana nas batalhas que referimos. O triunfo da infantaria em Aljubarrota e o aparecimento das armas de fogo modificaram os sistemas de defesa medievais, assentes na linha dos castelos roqueiros. No séc. XIV, o aparecimento de seteiras recruzetadas nos merlões e ameias do castelo de Linhares, mostram a necessidade de adaptação às armas ligeiras de fogo. Porém, os pesados canhões, os obuses e as minas tornaram vulneráveis as fortificações medievais. Daí a necessidade de as substituir por fortalezas do tipo das de Almeida. Na sua época e no seu tempo medieval, o papel defensivo do Castelo de Linhares foi fundamental e brilhante, retardando ou dissuadindo os avanços inimigos. Martim Afonso de Melo, alcaide de Linhares, seguiu D. João I de Castela movido pelos compromissos feudais e pelo interesse de benefícios. Como os não conseguiu, afastou-se. Mas o Mestre de Aviz não lhe perdoou e dispôs da vila a favor de D. Egan Coelho. Quando se deu a batalha de Trancoso, os homens bons de Linhares e os de Celorico participaram nela.

http://www.cm-celoricodabeira.pt/

domingo, 3 de abril de 2011

Mosteiro de São João de Tarouca





Foi o primeiro mosteiro da Ordem de Cister fundado em território português, no séc. XII, num local de forte tradição monástica evidenciada na própria invocação do mosteiro a São João, já que, por norma, os cistercienses dedicavam as suas abadias à Virgem Maria.Este mosteiro filiou vários outros no norte de Portugal: Fiães, São Pedro das Águias e Santa Maria de Aguiar.Na fachada da igreja existe uma inscrição que data o início da construção em 1152, e a sua sagração data de 1169.O Mosteiro está implantado junto do rio Varosa pois era condição da Ordem que os edifícios fossem erguidos junto de cursos de água. Embora se conserve ainda o recinto envolvido pela cerca, desapareceram já os claustros e alguns dos edifícios monásticos.As inúmeras doações recebidas (a primeira, pelo primeiro rei de Portugal, D. Afonso Henriques), e uma eficaz gestão das aquisições, tornou-o próspero nos séculos XII e XIII, possuindo um vasto património que se distribuía por todo o norte e centro do país.Durante o século XVIII o Mosteiro foi alvo de ampliações e renovação do mobiliário litúrgico e linguagem artística, como o prova a renovação da fachada, a execução dos azulejos da capela-mor (1718), o cadeiral do coro, que tem a particularidade de possuir nos espaldares representações pintadas de figuras ligadas à Ordem de Cister, ou o órgão, encomendado em 1766. Antes disso, ainda no século XVII, a capela-mor havia sido totalmente reformulada e ampliada para albergar um retábulo de talha dourada. Em 1996, a intervenção no Mosteiro de Tarouca, reconhecidamente um dos mais significativos monumentos da arquitectura cisterciense em Portugal, foi assumida como prioridade absoluta do IPPAR. As acções desenvolvidas desde então compreenderam diversas áreas de actuação, desde a conservação e restauro e a elaboração de estudos no âmbito da salvaguarda, até à aquisição de terrenos e drenagens.

domingo, 27 de março de 2011

Villa Romana de Torre de Palma





Trata-se de uma vasta villa rústica onde uma abastada família Romana, os Basilii, cujo nome é conhecido através de uma inscrição encontrada no local, construíram uma sumptuosa residência, aí se fixando de modo permanente talvez desde o Séc. II até ao Séc. IV da nossa era rodeando-se dos seus servos e amigos, recebendo numerosos convivas e viajantes, e explorando um vasto latifúndio, que incluía lagares, celeiros e outras dependências agrícolas. A villa desenvolve-se sobre uma suave colina, junto de um pequeno riacho, em torno de um vasto pátio interior, de forma trapezoidal. As amplas e sumptuosas instalações da villa romana, ou residência dos proprietários, dispunham-se por sua vez em torno de um peristylium, pátio quadrangular com um alpendre assente em colunas que tinha um tanque ao meio, o impluvium, e era pavimentado com mosaicos diversos. A entrada principal fazia-se através do tablinum ou sala de recepção, onde se encontrava o célebre mosaico das Musas, realizados por uma oficina itinerante africana, daí se passando para o pátio.Os Basilii eram decerto pessoas de mesa requintada, servindo-se de baixelas de prata ou de louça importada da Gália (França), e iluminavam as salas com belas lucernas de cerâmica fina ou de ou de bronze, rodeando-se de todas as comodidades da gente abastada dessa época, proporcionadas pela exploração das vastas terras de que dispunham por meio de numerosos escravos. Possuíam também umas termas de certa magnificência situadas um pouco a Oeste da villa, formando um edifício independente. De uma primeira sala, onde as pessoas se despiam e praticavam exercícios físicos, passava-se sucessivamente para as salas destinadas a banhos frios, tépidos e quentes (frigiderium, tepidarium e caldarium) respectivamente. Quanto aos servos dispunham de termas mais modestas, junto da sua área residencial, situada na ala Este da villa.






A axedra, sala destinada à prática musical e ao convívio, abria também para este pátio, e o seu pavimento era constituído pelo mosaico dos cavalos. A sala dos banquetes ou triclinium, patenteava claramente o apreço dos donos pela natureza, nas flores e frutos dourados dos frescos que revestiam as paredes e no próprio pavimento , constituído pelo lindíssimo mosaico das flores.






A Norte da villa encontraram-se as ruínas da Basílica Paleo-Cristã, provavelmente datada do séc. IV, com três naves de sete tramas, e ábsides contrapostas, a qual tinha um batisfério em forma de cruz, de Lorena, com dois lanços opostos de quatro degraus, considerado como sendo um dos mais complexos da Península Ibérica, só paralelos na Palestina e no Norte de África.








Designação Ruínas de Torre de Palma (Monforte)

Localização – Concelho / Distrito Monforte / Portalegre

39° 3’45.52″N 7°29’20.39″W