Um avivar das raizes

Um avivar das raizes

terça-feira, 21 de junho de 2011

Igreja de Nossa Senhora da Anunciação, Matriz de Mértola




A antiga mesquita de Mértola foi construída na segunda metade do século XII, numa zona onde se pensa ter existido um conjunto palatino desde a Antiguidade Tardia. Na sua edificação, foram vários os elementos reaproveitados de edifícios anteriores, como parte de uma arquitrave e diversos fragmentos de inscrições romanas, do século II. Para além disso, a actual igreja ainda conserva dois capitéis coríntios datáveis do século IX, nas imediações foram identificadas peças datáveis da época visigótica, o que reforça o estatuto deste local como um dos mais importantes no perímetro citadino ao longo dos tempos.
A mesquita era ligeiramente maior que a actual igreja, na medida em que possuía seis tramos (e não os 4 de hoje), suportados por vinte colunas (actualmente existem 12). Planimetricamente, tinha uma estrutura em "T", sendo mais amplas as naves central e a que se implantava junto da qibla, disposição espacial que foi já entendida como o resultado de uma inspiração directa em modelos marroquinos contemporâneos, com particular destaque para a mesquita de Tinmal (1153-54). O tecto era de madeira policromada e foi totalmente suprimido no século XVI, sobre ele descarregava uma curiosa cobertura, composta por cinco telhados de duas águas que cobriam cada uma das naves, e que foi ainda desenhada por Duarte d'Armas em 1509.
Desconhece-se a forma e localização do pátio anexo, mas é de presumir que se situasse a Nordeste, em cuja parede se abrem três portas de arco em ferradura inscrito em alfiz,descentradas em relação ao ritmo homogéneo dos tramos. No muro da qibla, a nascente do mirhab, situava-se uma quarta porta, de feição idêntica às anteriores. Ainda no exterior localizava-se o alminar, também desenhado por Duarte d'Armas, poderosa torre no prolongamento da nave central, elevada a c. de 15 metros de altura e que era decorada com duas séries de arcarias cegas. De volta ao interior, sobressai o mirhab, por possuir ainda uma decoração em gesso. Ele só foi descoberto no restauro dos anos 40 do século XX, facto que ajudou a conservar o revestimento, composto por "três arcos cegos polilobados rematados por uma cornija.
No plano estrutural, o telhado passou a ser duas águas e o portal, já renascentista e executado apenas nos meados do século, foi encomendado a André Pilarte, importante arquitecto sediado em Tavira e com ampla obra no Sotavento algarvio. No interior, contudo, foi ainda o vocabulário manuelino que triunfou, em capitéis e bocetes vegetalistas de grande qualidade, onde descarregam as abóbadas de cruzaria de ogivas dos tramos. Múltiplas obras menores sucederam-se nos séculos seguintes, mas não foram suficientes para alterar a exótica fisionomia almóada-manuelina do monumento.
O conhecimento destas transformações devemo-lo às Visitações ordenadas pela Ordem de Santiago, nos finais do século XV e primeira metade da centúria seguinte. Por elas ficamos a saber da relação de trabalhos efectuados, desde retábulos e pinturas murais à edificação da sacristia ou à redefinição do próprio espaço. Coube, todavia, ao comendador D. João de Mascarenhas (de quem ficou a memória numa mísula que contem um busto humano e uma cartela com a inscrição IOANE) a iniciativa de actualização do templo, ao que tudo indica a sua propya custa. Da empreitada então executada, conta-se a redução de seis tramos para quatro, a construção de um novo portal principal e a redefinição da cobertura, que obrigou também à substituição de capitéis do interior .

quibla- No Islão é definido como a direção da Kaaba em Meca para onde devem ser dirigidas as orações

Mihrab- É um termo que designa um nicho em forma de abside numa mesquita. Tem como função indicar a direcção da cidade de Meca (qibla), para qual os muçulmanos se orientam quando realizam as cinco orações diárias

Mísula- é um ornato que ressai de uma superfície, geralmente vertical, e que serve para sustentar um arco de abóbada


Fonte- Igespar
Fotos- http://pedrascomemoria.blogspot.com/

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Ribat da Arrifana


Este Ribat é citado em diversos textos islâmicos e por historiadores mais recentes, fundado pelo mestre sufi Abû-l-Qâsim Ahmad Ibn al-Husayn Ibn Qasî, na Ponta da Atalaia em Aljezur próximo do Vale da Telha, só foi identificado em 2001, pelos arqueólogos Rosa e Mário Varela Gomes.
A análise da informação histórica e arqueológica permite considerar que o Ribat terá sido erguido por volta de 1130 e abandonado a partir de 1151, depois do assassinato do líder espiritual seu fundador (Ibn Qasî) e da perseguição movida aos seus seguidores.
Natural de Silves, Ibn Qasi era provavelmente um muladi, ou descendente de cristãos convertidos, de origem romana, dado que se pensa que o seu nome de família viria do romano Cassius. Funcionário da alfândega de Silves opta por uma vida de meditação e recolhimento, entregando metade dos os seus bens aos pobres e refugiando-se numa Zauia ou Azóia onde inicia um caminho na busca de Deus, fundando uma confraria designada por Movimento Muridíno.
Essa Zauia daria origem ao famoso Ribat da Arrifana, em Aljezur, que constrói com a restante metade dos seus bens, e que se torna sede da sua Cavalaria Espiritual, e incluía uma mesquita, celas para os seus discípulos e cavalariças.
Nas escavações efectuadas foram identificados testemunhos arquitectónicos de três mesquitas, com qiblas e respectivos mihrabs, devidamente orientados para Meca, sendo uma delas de grandes dimensões e de construção mais “recente”.

A orientação do Ribat

Na extremidade poente da Ponta da Atalaia, localizava-se uma pequena mesquita, um minarete e “muro de orações”. A presença do minarete confere-lhe uma importância que a localização, quase debruçada sobre o Oceano, já indicava.
Na zona central foram identificadas um conjunto de celas, orientadas para nordeste, desde a arriba norte à arriba sul da península da Ponta da Atalaia, que poderão ser alinhamentos de pequenas mesquitas e, mais a poente duas vivendas que poderiam ter pátios.
Na zona mais interior foi descoberto um grande pátio delimitado por muros e dois compartimentos anexos que podem corresponder a uma madraza (escola corânica).






Estátua de Ibn Qasi em Mértola



Fontes consultadas: Vários textos de pesquisa na Internet acerca dos trabalhos realizados pelos arqueólogos Varela Gomes no Ribat