Um avivar das raizes

Um avivar das raizes

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Museu Municipal de Arqueologia de Silves




Inaugurado em 1990, o Museu Municipal de Arqueologia de Silves foi construído em torno do admirável Poço-Cisterna Almóada dos séculos XII-XIII – descoberto após escavações arqueológicas decorridas nos anos 80 do séc. XX e hoje classificado como Monumento Nacional – que se tornou a peça central da colecção e do discurso expositivo. Cenograficamente integra, também, a muralha da cidade do mesmo período, funcionando, assim, não só como um museu onde as colecções expostas são muito significativas, mas também como uma jóia do património islâmico em Portugal.
O acervo do Museu, na sua maioria proveniente das escavações decorridas na cidade e no concelho, reúne um conjunto de objectos do Paleolítico, os mais antigos, passando pelo Neolítico, pelo Calcolítico, pela Idade do Bronze, pela Idade do Ferro, pelo Período Romano e destacam-se, não só pela quantidade, mas também pela qualidade e excepção, as peças do Período Medieval, com destaque para o Período Muçulmano – Omíada, Califal, Taifa, Almorávida e Almóada, desde o século VIII ao século XIII, na sua maior parte do período Almóada, dos séculos XII-XIII –, que são prova da riqueza e da importância da cidade naquele período histórico.
A colecção reúne, ainda, um importante conjunto de objectos do período moderno – séculos XV, XVI e XVII –, que demonstra a influência das rotas comerciais e a importância das trocas e contactos da cidade com outras regiões do globo.
Dividida em oito núcleos temáticos, a colecção poderá ser visitada cronologicamente desde o Paleolítico até ao século XVII.
É parceiro desde 2005 da organização Museum With no Frontiers, na secção Discover Islamic Art. www.discoverislamicart.org
É membro, deste Março de 2008, da Rede de Museus do Algarve, juntamente com outros Museus da região, projecto que visa a cooperação e parceria entre instituições museológicas.


http://www.cm-silves.pt

Fotos : http://pedrascomemoria.blogspot.com/

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Igreja de São Mamede de Vila Verde



História

Os documentos mais antigos referem a existência da Igreja de São Mamede já em 1220, na altura integrando o padroado do Mosteiro de Santa Maria de Pombeiro.
No entanto, o atual edifício corresponde a uma reforma mais tardia, já em plena época de influência gótica, apesar de recorrer ainda à construção românica.
As Inquirições de 1258 indicam que D. Mendo de Sousa instala-se no lugar de Vila Verde em 1258. A capela terá, muito provavelmente, sido erigida no século XIII.
Martim Anes e a irmã Maria Anes efetuam a doação da Quintã de Vila Verde ao Mosteiro de Pombeiro, em 20 de fevereiro de 1301.



Alguns apontamentos de frescos que ainda hoje são passíveis de serem admirados na capela-mor foram pintados, pelo Mestre Arnaus, no século XVI. Na nave é ainda visível o revestimento a reboco decorado com pinturas. O santo padroeiro era S. Mamede.



Durante muito tempo em estado de ruína, sem possuir cobertura, a Igreja sofreu as vicissitudes do abandono e das condições climatéricas. Este desleixo terá principiado após 1866, altura em que é construída uma nova igreja paroquial em Vila Verde. Em 1959 já não possuía telhado.


Recuperação e Valorização



A Igreja foi objeto de obras de conservação e valorização, no âmbito das quais se procedeu ao restauro de pinturas murais. Estas apresentavam um preocupante estado de conservação em resultado de um prolongado estado de ruína a que o edifício esteve sujeito.
Entre os rebocos e o suporte encontraram-se raízes, que foram removidas. Seguiu-se uma limpeza húmida, apenas possível devido à excecional qualidade do reboco original.
As lacunas foram preenchidas em profundidade antes da aplicação do reboco final, para o qual foi escolhida uma argamassa de duas partes de areia branca, uma parte de areia amarela e uma parte e meia de cal, com adição de pequena medida de pó de pedra negra.
Os responsáveis pelo restauro optaram por não efetuar uma reintegração cromática, devido à grande fragmentação da pintura. Em paralelo, procedeu-se à lavagem dos paramentos da nave, que apresentavam restos de reboco caiado.
A pintura da parede fundeira corresponde, segundo os técnicos, a uma campanha de inícios do século XVI, podendo ser dividida em duas partes distintas.
A superior é preenchida por composição decorativa de elementos vegetalistas que envolvem um escudo de armas central. A inferior divide-se em três áreas verticais com a representação, em cada uma delas, de três figuras de santos. À esquerda, provavelmente, São Bento, e à direita, provavelmente, São Bernardo, encontram-se dois monges com mitra e báculo. Ao centro estará S. Mamede, pese embora o grande número de elementos em falta. Estas imagens estão rematadas por uma moldura em forma de barra de enrolamento.
Por cima da composição encontram-se vestígios de uma segunda campanha pictórica, que cobriria toda a parede fundeira, prolongando-se até metade das paredes laterais. Nestas últimas é possível observar uma representação de armas pontuada por motivos decorativos estampilhados.
Na nave, os fragmentos encontrados nas paredes laterais devem fazer parte da primeira campanha da capela-mor. O reboco da zona superior e da zona inferior possuem, em ambos os lados, um hiato central, registando-se a presença de uma pintura decorativa de padrão repetitivo de quadrifólios a vermelho e negro.


Arqueologia

A Igreja sofreu uma intervenção arqueológica entre 21 de junho e 6 de julho de 2005, com o objetivo de procurar compreender a solução construtiva na ligação do arco triunfal à capela-mor, para informar adequadamente o projeto de arquitetura no que respeita à articulação dos diferentes pisos e avaliar a existência de condicionantes arqueológicas à execução das obras previstas para a utilização do templo.
Segundo moradores locais, terão sido efetuados translados dos enterramentos existentes na Igreja para o novo cemitério da freguesia, durante a década de 40 do século XX, pelo que os responsáveis pelos trabalhos arqueológicos não esperavam encontrar vestígios primários de enterramentos.
As escavações principiaram pelo interior da capela-mor, o arco triunfal e o ombro setentrional da nave. Procedeu-se ao levantamento fotográfico e gráfico do pavimento e numeração de todos os elementos para eventual futura remontagem, na zona pavimentada da capela-mor.
O espólio recolhido foi objeto de tratamento preliminar de limpeza, marcação, inventário e classificação, depositado provisoriamente nas instalações da Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho, sendo composto por 175 fragmentos de diversos tipos de materiais, desde vidros contemporâneos, cerâmicas modernas e contemporâneas, associados ao contexto secundário dos aterros registados após a transladação.
Encontraram-se, ainda, uma moeda, duas contas de rosário em cerâmica e um pequeno crucifixo em madeira revestida de chapa de cobre, todos elementos datados do período Oitocentista.
Na fase inicial da escavação foi possível identificar que a vala de fundação do arco triunfal moderno corta os pés de uma das cavidades sepulcrais modernas, além do embasamento do pilar sul do arco medieval original. Este prolongava-se mais para sul, determinando um vão menor.
As escavações esclareceram que a solução de articulação entre a nave e a capela-mor, confirmando a existência de um desnível original entre um espaço e outro e que o alargamento e elevação do arco triunfal, não se traduziu em qualquer alteração do nível das cotas dos pisos, conforme refere o relatório dos trabalhos arqueológicos.
Confirmou-se, igualmente, o profundo e quase total revolvimento do subsolo da igreja, na sequência da transladação dos restos dos enterramentos para o novo cemitério, em meados do século XX.
O altar foi desmontado e a capela-mor recebeu uma repavimentação, recorrendo a elementos originais, incluindo partes do maciço correspondentes à mesa do altar.

Lendas e Curiosidades


São Mamede tem fama de protetor do gado, daí a localização desta Igreja, numa área dedicada à pastorícia. O santo terá sido pastor e mártir da Cesareia, na Capadócia. No deserto terá construído um espaço de oração onde pregava o Evangelho aos animais selvagens. Um anjo ordenou-lhe que utilizasse o leite dos animais para fazer queijo e oferecer aos pobres.



O Imperador Aureliano perseguiu São Mamede, acabando por o condenar a ser devorado por um leopardo, um leão e um urso. Estes, contudo, recusaram atacar São Mamede e, pelo contrário, ajoelharam-se aos seus pés. Após ter sofrido martírios incontáveis, as relíquias de São Mamede foram transportadas para Itália, Alemanha e França.






Bibliografia


AFONSO, Luís Urbano de Oliveira – A Pintura mural portuguesa entre o Gótico Internacional e o fim do Renascimento: formas, significados, funções. Lisboa: [s.n.], 2006. Tese de Doutoramento em História da Arte, apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. 3 Vols.

AFONSO, Luís Urbano de Oliveira – “Arnaus: um fresquista do Renascimento”. In SERRÃO, Veríssimo (coord.) – O largo tempo do Renascimento: arte, propaganda e poder. Casal de Cambra: Caleidoscópio, 2005. p. 212-221.

ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de – Patrimonium: inventário da Terra de Sousa: concelhos de Felgueiras, Lousada e Paços de Ferreira. [CD-ROM]. Porto: Etnos, 1995.

BESSA, Paula – “Pintura mural em Santa Marinha de Vila Marim, S. Martinho de Penacova, Santa Maria de Pombeiro e na Capela Funerária anexa à Igreja de S. Dinis de Vila Real: parentescos pictóricos e institucionais e as encomendas do Abade D. António de Melo”. Separata de Cadernos do Noroeste. Braga: Universidade do Minho. Série História 3, vol. XX, nº1-2 (2003) p.67-96.

BOTELHO, Maria Leonor – São Mamede de Vila Verde: um testemunho tardio do românico do Vale do Sousa. Felgueiras: Município de Felgueiras, 2011.

CRAESBEECK, Francisco Xavier da Serra – Memórias ressuscitadas da Província de Entre Douro e Minho no ano de 1726. Ponte de Lima: Edições Carvalhos de Basto, 1992. Vol. II.

FERNANDES, M. Antonino – Felgueiras de ontem e de hoje. Felgueiras: Câmara Municipal de Felgueiras, 1989.

FONTES, Luís; CATALÃO, Sofia – “Intervenções arqueológicas no âmbito da Rota do Românico do Vale do Sousa”. In Actas do I Encontro de Arqueologia das Terras de Sousa. Oppidum - Revista de Arqueologia, História e Património. Lousada: Câmara Municipal de Lousada. Número Especial (2008) p. 257-281.

MALHEIRO, Miguel [et al.] – “Torre de Vilar”. In Estudo de Valorização e Salvaguarda das Envolventes aos Monumentos da Rota do Românico do Vale do Sousa: 2ª Fase. Porto: [s.n.], 2005. Vol. II.

ROSAS, Lúcia (coord.) – Românico do Vale do Sousa. Lousada: Comunidade Urbana do Vale do Sousa, 2008.

http://www.rotadoromanico.com